domingo, 18 de março de 2012

MATINTA PERERA - Uma lenda da Amazônia


A Matinta Perêra é uma velha de preto, com os cabelos desgrenhados. Prefere sair em noites sem luar. Quando sente a presença de humanos ela assobia estridentemente, como se gritasse o próprio nome: Matinta Perêra!

Ela apavora às pessoas.
Pode-se transformar em animais.

Se quer descobrir quem é a Matinta Perêra, ao ouvir o assobio, convide-a para tomar café de manhã. A primeira pessoa que chegar pedindo café ou tabaco é ela.
A Matinta Perêr, segundo o povo, pode fazer feitiços para causar dor de cabeça e no corpo. Alguns acabariam morrendo.

De Loudes conta que quando era menina morava, com seu pai, na fazenda dos Campos de Quatipuru. Costumava aprontar poucas e boas. Volta e meia ganhava um castigo da mãe ou um cocorote do pai. Como ela mesma dizia: “era umcan-cão de fôgo”! Atiçava as cobras nas suas tocas, perseguia animais bravos, desafiava o encantado. Um dia seconfrontou com a Matinta Perêra.

– Fi-ri-fi-fi-fiuuu… Matinta Perêra… das grandes!

– Olha, Dona Matinta, me deixa dormir e amanhã passa aqui para tomar café e pegar tabaco.
No dia seguinte uma velha apareceu na casa do Vicente, pai de De Lourdes, para pegar o tabaco. Vicente deu o tabaco à velha e De Lourdes ganhou uma surra de vara, de cuieira… para nunca mais querer ouvir falar da Matinta.

Mas, o que é a Matinta Perêra?

Existem várias formas de escrever o seu nome: Matinta Pereira, Matinta Perêra, Matinta Perera, Mati-Taperê, Mat-taperê, Matim-Taperê, Titinta-Pereira. Ela se apresenta como sendo uma velha, geralmente acompanhada de um pássaro. O pássaro assobia, à noite, para perturbar o sono das pessoas e assustar as crianças.

A velha, uma pessoa idosa do lugar, carregaria a maldição de “virar” Matinta Perêra. Em Castanhal a “Nêga Antônia” ficou com esta fama, de assombrar as pessoas. Às vezes ganhava asas e voava pela vizinhança. A Nêga Antônia herdou este maldição da antiga Matinta Perêra, que morava no interior das matas do Apeú. Dizem que um dia, quando “Nêga Antônia” ia passando por aquelas bandas, para juntar lenha, ouviu uma voz perguntando:
– Quem quer? Quem quer?
– Eu! Respondeu Antônia, prontamente.
Foi o seu erro. A antiga Matinta queria passar a maldição, antes de morrer!
Nas noites mais escuras era a “Nêga Antônia”, agora, que assombrava as ruas da pequena Castanhal. Quem quisesse ver era só esperar, acocorado, embaixo de alguma mangueira: lá pelas tantas aparecia uma negra horrível, vestida de prêto. Quando queriam pegá-la ela se transformava numa grande porca e fugia, rapidamente para o mato.

Um dia o caçador Pernambuquinho, experiente e com pelejas célebres contra cobra grande e curupira, resolveu acabar com as presepadas de “Nêga Antônia”. Mandou o Padre Zé Maria benzer uma bala de chumbo, carregou a espingarda “tauari” e foi para baixo da mangueira, esperar. Alta hora da noite aparece a preta. O caçador se prepara. Quando a “Nêga”, virada Matinta, percebe que caiu em uma tocaia do caçador atira-se ao chão e transforma-se em porca. Antes que ela fugisse o caçador deu um tiro.

Daquele dia em diante a “Nêga Antônia” sumiu. Quando apareceu estava com uma das mãos quebradas. Quem não creditava viu e acreditou: o tiro atingiu apenas uma das patas dianteiras da porca. E a Matinta Perêra, daí em diante, nunca mais assombrou as noites da cidade – o encanto havia-se desfeito.

Durante muito tempo os moradores da Vila do Apeú, vizinha a Castanhal, ao passar pela casa abandonada da Nega Antônia, ouviam:

– Quem quer?

CarloZaraujo
amazonia.fantastica.com.br