sexta-feira, 30 de novembro de 2012

POR UMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS...


Estávamos, os dois, deitados no tapete da sala assistindo a alguma coisa que não me lembro o quê. Então, uma das cenas do filme despertou em nós uma calorosa discussão, acho que era algo sobre não falar de religião, futebol e política. Estávamos rindo um do outro porque nenhum dos dois queria perder aquela batalha que definiria quem é que tinha razão. Então tivemos, ao mesmo tempo, a brilhante idéia de transformar as almofadas do sofá em armas de efeito moral. 

Armas nas mãos, sangue nos olhos, FIGHT!

Depois de uns dez minutos de luta acirrada, eu já estava exausto enquanto ela estava ainda com toda a energia para passar a noite toda me soterrando debaixo de toneladas de almofadas, se fosse preciso, apenas para me dar uma lição. Aproveitando-se de um deslize meu, ela roubou-me a almofada e se projetou sobre mim, agora com as duas “armas” nas mãos. Eu a segurei pelos braços e, com a força do ímpeto com que ela avançou sobre mim, nós dois caímos sobre o tapete, eu de costas para o chão, ela por sobre mim. Nossos olhos se encontraram, os rostos bem próximos, podíamos sentir a respiração um do outro, ofegantes que estávamos devido ao esforço da “batalha”. Por uma fração de segundos pareceu que o tempo havia parado e ficamos ali nos olhando por uma eternidade. Finalmente ela quebrou o silêncio e disse:

- Parece coisa de filme
- E o que acontece agora?- perguntei.
- O rapaz beija a moça. – respondeu ela.

Giordano Narada

DANÇA COMIGO

Vou me vestir de tristeza essa noite, e farei dela minha armadura impenetrável
Abraçarei a dor no meu peito como um amante apaixonado, e ela será minha amiga
E que a escuridão me beije com seus lábios gelados e traga de volta quem eu sou

Dança comigo essa noite, ao som de lamento, choro e desgosto
Encontre os meus olhos e verá tua imagem, sim, tua imagem
A imagem da tristeza que inspira os poetas e também os desesperados

Fala ao meu ouvido com doçura, e me lembra do vazio que me preenche
Envolve-me em teus braços e me guarda , até que seja seguro outra vez
E se nunca mais for seguro, e se não houver outra vez
Apenas me deixe ficar, apenas me deixe dormir














HOJE SONHEI COM VOCÊ


Hoje sonhei com você. Sonhei que você me sabia apesar de eu não haver revelado. Toda a minha história estava ao meu redor, todos os que um dia conheci, até mesmo alguns com quem estive apenas uma vez e que nem mesmo sei o nome. Era minha história como testemunha de que você me sabia apesar de eu não ter revelado. O seu olhar me fez tremer por dentro, tive medo de estar enganado, interpretando errado. Você me soube e me quis.

Eu era muito jovem quando te conheci, te soube e te quis. Vi você com os olhos de quem vê uma pedra preciosa em estado bruto, ainda cercada por outras rochas de valor infinitamente inferior, porém, estava claro para mim como seria depois de lapidada. Eu vi o seu futuro e desejei ser parte dele.

Quis o destino que escolhêssemos caminhos diferentes, mas ainda assim, nossos caminhos se cruzaram. Talvez tenha sido apenas uma paixão de adolescente, qualquer coisa passageira, essa era a minha esperança. Mas seja lá o que for não passou com o tempo.  

Outra vez te vi e agora não mais como uma pedra bruta. Parece que o tempo te fez muito bem, ficou mais bonita. Mas não foi só isso, você amadureceu. Muitas coisas não resolvidas dentro de você agora se mostram mais do que resolvidas. E outras questões muito maiores ocupam sua vida, ao mesmo tempo em que hábitos e escolhas inacreditavelmente simples revelam que a pedra bruta que conheci agora está tomando uma forma belíssima, embora surpreendente.

Sim, eu realmente te vi, mas não te conheci. É por isso que quando agora te vejo não te reconheço. Talvez porque quando te vi, na verdade vi a mim mesmo, projetado em você. Talvez porque meu olhar tenha mudado, mas não estou certo disso.

Eu desisti de você. Muitas vezes eu desisti. Desisti todas as vezes. Sim, todas as vezes em que eu me imaginava dividindo e multiplicando meus devaneios insanos com você, minha covardia e baixa auto-estima me lembrava que eu nunca seria alguém capaz de ser o guardião de tão preciosa e rara esmeralda.

Mas esta noite eu sonhei e, por um breve instante acreditei. Você estava linda como nunca e à vontade caminhando entre minhas memórias como quem compreende totalmente. Então você se aproximou, colocou as duas mãos sobre o meu peito, sentindo meu coração acelerado e sorriu. Ah, que sorriso. Hipnotizado pelo teu olhar e embriagado pela idéia de que você finalmente havia me notado, decidi que te beijaria bem ali, em frente a todas aquelas testemunhas, coroando minhas memórias com o “aqui e agora” destilado de teus lábios, dividindo a minha vida em antes e depois de agora. Com as duas mãos toquei sua cintura, e fiz minha mão esquerda deslizar por suas costas até tocar sua nuca e entrelaçar meus dedos em seus cabelos. Mantive minha mão direita em sua cintura e te inclinei levemente enquanto aproximava meus lábios dos seus. Enquanto me aproximava observei seus olhos se fechando, preparando-se para que meus lábios tocassem os seus. Em instantes eu estaria no paraíso. Fechei meus olhos para poder desfrutar sensorialmente do que, por dez anos, só pude viver em minha imaginação. Eu não devia ter fechado os olhos.

Acordei na sala do meu apartamento, deitado no sofá de frente a TV. Fiquei ali, observando os créditos do filme que havia terminado há pouco, ouvindo a bela melodia que me espancava o peito, cheio  de agonia por não ter conseguido me manter no sonho até conseguir aquele beijo. Puxa vida, nem mesmo sonhando...

Giordano Narada
18/12/2011