domingo, 18 de março de 2012

Bruna Surfistinha e eu.


Ontem assisti ao filme O Doce Veneno no Escorpião, que conta a história de vida de uma Garota de Programa que ficou conhecida como Bruna Surfistinha. No começo achei que o filme ia ser bem babaca, mas depois comecei a me interessar pelo aspecto psicológico da história.

Primeiro, abordando a questão da adoção, fico pensando que milhares de crianças no mundo todo estão em orfanatos, abrigos sociais ou mesmo casas de detenção esperando que alguém as ame e as leve para casa. Crianças que vivem sem referencia de família e, tendo esse como um dos motivos, acaba entrando na criminalidade ou se autodestruindo com drogas, álcool ou qualquer outra atividade que promova fuga momentânea da realidade, mas que no fim leva a morte. Por outro lado, fico imaginando como se sente uma criança que mora com seus pais adotivos. No caso da Bruna, no filme, há uma sensação de não pertencer àquela ambiente, com um pai indiferente, uma mãe omissa e um irmão FDP. O que sobraria para uma criança crescendo em um ambiente como esse se não o desejo de ‘’se mandar’’ dali?

Bom, ela ‘’se mandou’’ e fez a única coisa que acreditou ser possível fazer, e fez com determinação. Virou garota de programa, aprendeu a fumar, beber, usar cocaína e a ganhar dinheiro com a exploração de seu corpo. Criou um blog que fez grande sucesso, escreveu um livro, fez pornô e agora sua vida virou um filme. Mas meu ponto é: quantas Brunas e Brunos vão ter que passar por tanto sofrimento, quantos livros terão eu ser escritos e quantos filmes terão que ser feitos pra gente acordar e perceber que o nosso mundo ta uma zona e a responsabilidade é toda nossa? Será que ninguém percebe que Garotas de Programa só existem porque gente de alma doente paga pra transar com outra pessoa, sem amor, carinho ou qualquer sentimento que não seja o desejo de satisfazer suas taras que são fruto de uma alma sem alma?

Pais que abandonam seus filhos, pais adotivos que fazem diferença entre filhos biológicos e não biológicos, discriminação racial, preconceito, diferenças sociais, nosso sistema de ensino falido, nossas religiões hipócritas e vampirescas, nossa omissão e covardia, nossa falta de amor. Tudo isso é o que faz com que uma garota de 18 anos decida sair de casa para trocar sexo por dinheiro. Na verdade o que ela estava buscando era se sentir amada, desejada, incluída, respeitada e aceita.

É muito fácil apontar o dedo e dizer que ela e outras poderiam ter escolhido um caminho melhor, que existem alternativas, que se fosse você nunca seria desta maneira, mas o desafio é ao invés de olhar pra fora, olhar para dentro e se perguntar: como eu faço pra mudar esse quadro?

Em pleno século 21, com toda a informação que temos e sabendo tudo o que sabemos, não dá mais pra agirmos como trogloditas e idiotas apontando o dedo pra quem quer que seja e dizer que a responsabilidade é dela e as conseqüências também. A responsabilidade é de todos nós, somos nós quem permitimos que o amor desapareça, que o respeito evapore e que a fé no ser humano seja quase nula. Somos nós que assumimos uma cultura omissa e covarde, voltada para o próprio umbigo e colocando sempre a responsabilidade no governo, na religião, ou no colo de qualquer um que não seja eu.

Eu sou jovem, tenho 27 anos, não vi quase nada de nossa história, mas me lembro de ter visto na TV quando criança, jovens com suas caras pintadas exigindo que o Presidente da República deixasse o cargo, e eles conseguiram. Esta é uma prova de que coragem, determinação e um pouco de organização podem fazer algo mais do que criticar e apontar o dedo.

Eu sonho com o dia em que inauguraremos um tempo novo, uma nova cultura, onde a lei é o amor, a tolerância, o respeito e a paz uns com os outros. Sonho com uma realidade onde nenhuma menina vai precisar vender seu corpo pra poder se sentir aceita. Onde não será necessário pagar seguro do seu carro porque em algum momento fatalmente ele será roubado. Lugar onde mães não abandonam seus filhos e nem filhos abandonam seus pais. Tempo onde nenhum homem ou mulher, casados ou solteiros, saiam de casa para pagar por sexo.

Fale o que quiser sobre mim, diga que isso é coisa de sonhador, de menino, é utopia. Mas não reclame quando seu marido for buscar uma prostituta na rua, ou sua filha virar uma, ou sua mulher ou namorada for buscar fora o que não tem em casa, ou quando você for assaltado pela décima vez. Nunca reclame daquilo que você permite. Ou você não permite, ou cala a boca.

Eu vou fazer a minha parte, faça você também a sua.

“Voce pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único” John Lenon.

Giordano Narada