domingo, 18 de março de 2012

A GRANDE PARÁBOLA


“Dá-me o entendimento da Grande parábola, para que eu possa contá-la de maneira diferente”
                                                                                                                   
Essa frase surgiu em minha mente  como uma estranha oração, vinda de lugar nenhum.  Embora eu soubesse que não havia lido ou ouvido esta frase antes, esta me soava bastante familiar. E não somente me era familiar a frase, mas também o seu significado.

Os grandes mestres de todos os tempos, por muitos caminhos e de muitas maneiras compreenderam a Grande Parábola, não totalmente, mas algumas partes bastante significativas. Não é à toa que estes mestres foram responsáveis pelos nossos grandes saltos evolutivos e, ainda hoje, pautamos nossas vidas e sociedade por seus ensinamentos que percorrem gerações sem tornarem-se obsoletos.

O mito chamado Jesus de Nazaré foi, eu diria, o mais notável de todos dentre estes mestres. Isso pode ser constatado pelo simples fato de a História da humanidade estar dividida em duas partes: AC e DC, Antes de Cristo e Depois de Cristo. Entre seus feitos lendários está o de transformar água em vinho, a transmutação da matéria, profundo anseio dos alquimistas, e sua famosa multiplicação de pães e peixes, que com cinco pães e dois peixinhos pode alimentar uma multidão de milhares de pessoas e ainda houve sobra.

Agora, imaginemos que estas histórias sejam realmente verdadeiras. Na verdade estas não são as únicas histórias de milagres extraordinários por parte de um homem comum. Todas as religiões do mundo têm suas histórias fantásticas, e por conta da cultura de nossos ancestrais, era natural que o homem que praticasse tais “milagres” fosse chamado de deus. Mas, e se estes homens não fossem deuses? E se fossem apenas pessoas iguais a nós, porém com um conhecimento avançado demais para seu tempo, e até mesmo para o nosso tempo?

Para algumas religiões orientais, a verdadeira realidade não é o que podemos ver, tocar, perceber com os cinco sentidos, mas está sutilmente “por detrás” de todas as coisas. Como se fosse o Código Fonte de tudo o que existe, que não pode ser percebido pelos sentidos naturais, mas que de algum modo, alguns homens e mulheres foram capazes de percebê-lo.

Atingir o Nirvana foi o que tornou um príncipe da Ásia Meridional, um jovem chamado Siddhartha Gautama, o Supremo Buda (O Iluminado), cujo saber haveria transcendido as ilusões dos sentidos (Maya) e encontrado a iluminação total, conhecendo a verdade sobre tudo. Atingir o Nirvana seria o mesmo que acordar para a Verdadeira Realidade, que está para além das percepções dos sentidos. Siddhartha Gautama e Jesus de Nazaré foram grandes líderes e trouxeram mudanças profundas na vida do planeta, porém a jornada de Jesus de Nazaré foi marcada por eventos miraculosos, o que me despertou um pensamento.  

Estes dois notáveis falaram cada um à sua maneira, que a realidade em que vivemos não é nada além de ilusão, e que a Verdadeira Realidade está para além dos sentidos físicos, e de alguma maneira, estes dois puderam discernir isso. Porém, Jesus de Nazaré, por entender esta realidade foi capaz de transformar água em vinho, multiplicar pães e peixes, andar por sobre as águas e devolver a saúde a um sem número de pessoas. Se isso tudo for verdade, só posso chegar a uma conclusão: quem for capaz de compreender do que a “realidade” é feita, será capaz de modificá-la! 

É assim que a ciência funciona. Primeiro entende-se a composição de todas as coisas, para então manipulá-las e modificá-las. Talvez, enquanto a maioria de nós venera um homem como deus, o mesmo estivesse apenas, porém não simplesmente, dominando uma ciência revolucionária que poderia estar à disposição de todos os homens se não fosse nossa ânsia por divinizar ou demonizar o desconhecido. Talvez pelo fato de Jesus de Nazaré conhecer a composição da matéria, também soubesse manipulá-la. Se for assim, o fato de transformar água em vinho ou andar por sobre as águas foi pura e extraordinária demonstração de conhecimento cientifico aplicado. E se de fato assim foi, não me admira que tenha dito aos seus discípulos “fareis as mesmas obras que eu faço, obras ainda maiores farão”, pois certamente foi capaz de transferir seu conhecimento e ainda confiava que os que o detinham poderiam aperfeiçoar ainda mais aquilo que aprenderam. 

Acredito no potencial humano, no divino-humano. Acredito que os personagens históricos s mitológicos mais extraordinários são de todo humanos, como nós, porém sem as mesmas limitações psicológicas e de formação, que descobriram uma realidade que nós ainda negamos, com todas as forças. Acredito que por trás de tudo o que vemos, sentimos e percebemos naturalmente, há um Código Fonte que se for compreendido, poderá ser manipulado alterando a realidade das percepções. Na verdade creio que isto tem sido feito, diariamente, por todos nós.  Porém o que fazemos é inconsciente e segue um padrão. Poucos são os que saem do padrão e eu diria que, em nossos dias, quase nenhum de nós tem consciência real de que isso é, não somente possível, com também é de suma importância que o façamos. 

É como se a realidade em que vivemos fosse uma grande parábola, como uma história que alguém contou para que pudéssemos entender melhor o que é de fato real. O problema é que nós interpretamos esta parábola literalmente. É como quando o Deus bíblico ordena aos seus servos que os seus ensinamentos estejam atados às suas mãos e em sua fronte, então os que ouviram escreveram as leis de Deus em pequenos livros e penduraram em suas mãos e testas. Era uma parábola. Não era pra amarrar nada na testa, era pra entender a importância do que ele estava dizendo. Mas nossa tendência a querer perceber sensorialmente todas as coisas acaba por nos impedir de ir além, nos pregando ridículas peças que se tornam obstáculos em nossa evolução. A nossa existência é uma grande parábola, e se aprendermos sua natureza, composição e seus símbolos, talvez seja possível modificar a realidade em que vivemos. Os homens que citei entenderam isso.  Vários outros que não citei aqui também compreenderam isso, mas nenhum deles foi capaz de nos fazer abrir mão dessa realidade para conhecer aquela.

Jesus de Nazaré não foi o fundador do Cristianismo. Sua mensagem foi clara no sentido de que seus discípulos deveriam ser como ele, e não inferiores a ele. Siddhartha Gautama não foi o fundador do Budismo. Ele deixou claro em suas mensagens que cada um tem o seu caminho, e que o caminho dele foi só dele. Segundo Siddhartha, ninguém deveria dirigir adorações ou culto a outro homem, pois todos têm a mesma essência, a mesma fonte, mas infelizmente os que vieram depois distorceram as palavras destes e de todos os outros grandes mestres. 

A busca de um Deus fora de nós é a causa de nossa ignorância com relação ao nosso próprio potencial. Entristeço-me por isso. Deveríamos estar muito longe no campo evolutivo se tivéssemos dado ouvidos aos que enxergaram além. Mas ainda existirão outros, e quem sabe daremos ouvidos desta vez. 

Por hora, de coração, faço a minha oração: Dá-me o entendimento da Grande Parábola, para que eu possa contá-la de maneira diferente. 

Giordano Narada
09/12/2011