sábado, 29 de dezembro de 2012

O JOGO DA VIDA




Esta semana observei três crianças, de idades diferentes, brincando com um jogo de tabuleiro chamado Jogo da Vida. Eu não conhecia o jogo. Elas estavam na sala e eu na cozinha, à mesa, tentando pela milésima vez usar a internet do celular. Enquanto esperava carregar alguma página, passei a prestar atenção na conversa das meninas. Uma delas pegou uma carta e leu: “você tem que estudar para o vestibular, fique uma rodada sem jogar”. Eu me lembro de pensar em como aquela sentença realmente fazia sentido. Geralmente, o jovem que está se preparando para o vestibular, praticamente deixa de viver por um período. É claro que estou falando dos que estão realmente interessados em passar no vestibular, e também estou falando de uma das boas universidades públicas do Brasil, porque quando se trata de faculdade particular, não há tanta necessidade de estudar, com raras exceções.

Enquanto eu ainda pensava sobre o coitado do estudante que “perde a vida” na esperança de que, com um diploma embaixo do braço possa “ganhar a vida”, as crianças começaram a brigar, não faço ideia do por que. Mas é claro que, com criança, o motivo pode ser qualquer um. Já era, talvez, a terceira briga que elas estavam tendo desde que o jogo começou, quando a irmã mais velha interrompeu a confusão, impondo ordem ao caos. O que me chamou a atenção naquela cena foi a frase que a irmã mais velha utilizou para chamar a atenção das meninas: “vocês mais brigam o que jogam”, ela disse. E não é que mais uma vez se parece muito com a Vida Real?! Nós gastamos boa parte das nossas “brigas vidando” ao invés de viver. Brigamos com nossos pais, irmãos, colegas de escola, brigamos no trânsito, no trabalho, com quem amamos, também com quem odiamos. É, há quem odeie. Brigamos com a atendente da operadora de telefone, da internet, brigamos com a balança, com a conta bancária, enfim, brigamos por tudo e com todos. Mas será que não estamos nos esquecendo de uma coisinha chamada vida no processo?

Eu não sei quem é o vencedor no jogo de tabuleiro chamado Jogo da Vida, mas na Vida que eu jogo ninguém ganha, ninguém perde. Todas as coisas acontecem a todos, as boas e as ruins.

Nesse jogo, alguns meninos pobres tornam-se jogadores de futebol milionários, outros se tornam traficantes e morrem jovens ou são presos. Alguns meninos ricos tornam-se PlayBoys violentos capazes de colocar fogo em moradores de rua, enquanto outros tornam-se pessoas que fazem o bem para muitos. Os tetos também caem, tanto sobre ateus como sobre cristãos. Sim, não há vencedores nem perdedores, apenas uma multidão de indivíduos que, em sua maioria, não sabem que são indivíduos e comportam-se sempre como multidão. Cada um e une ao seu grupo e se acha melhor que o outro grupo. Ou, o indivíduo que pertence a um grupo, deseja pertencer a outro, porque o julga melhor. Mas raramente este indivíduo escolhe pensar por si mesmo e seguir o seu próprio caminho.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

QUER SER FELIZ OU QUER TER RAZÃO?





Ter razão é uma das necessidades básicas de todos nós. Em alguns casos, comer e beber vem em segundo e terceiro plano quando se trata de ter razão. Discutimos, brigamos, rompemos relacionamentos amorosos, estragamos amizades de anos, abrimos mão de coisas importantes, tudo para ter razão, para vencer uma batalha imaginária. Por vezes somos até cruéis com as pessoas que amamos porque queremos, a todo custo, sermos os donos da razão, mas será que isso é tão importante assim?

Geralmente, as pessoas que fazem questão de ter razão são aquelas que medem o mundo a partir de si mesmas, colocando-se como parâmetro para os outros, esquecendo que, por mais que estejamos juntos, no mesmo lugar, trilhamos caminhos diferentes para chegar até aqui, e é o caminho que nos molda. É ele que forja o nosso caráter, e que por sua vez, determina nossas ações e reações. Porque o meu caminho para chegar até aqui foi diferente do seu, minhas decisões também serão diferentes das suas, e isso nem sempre quer dizer que você ou eu estamos errados.

Existe uma coisa chamada PARADIGMA, que todos nós temos, mas são poucos os que tomam consciência de que isso existe. Por causa da não consciência do paradigma, nos sentimos no dever de fazer com que as outras pessoas pensem como nós, e acabamos por nos tornarmos incapazes de enxergar a beleza da diferença no outro. É a diferença entre nós que nos faz evoluir.

domingo, 23 de dezembro de 2012

QUASE MORTE - Episódio 01














David acordou com uma baita dor de cabeça, era como se tivesse levado uma surra. Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Esforçou-se um pouco mais e percebeu que estava com os olhos abertos, porém o lugar onde estava era tão escuro que era como se estivesse de olhos fechados. Estava deitado no chão, tateou e encontrou uma parede, onde se apoiou para ficar de pé. Ergueu-se com dificuldade, enquanto imaginava que lugar era aquele. Não se lembrava de nada da noite anterior, a não ser que estava em um bar com o pessoal do trabalho, quando recebeu uma ligação de Jéssica, sua noiva, pedindo que fosse até sua casa com urgência. Preocupado, pegou um taxi na entrada do bar, porém acordou ali, no chão daquele lugar escuro, sem ter a menor ideia de onde estava ou do porque estaria ali.

Continuou tateando, apoiando-se nas paredes do lugar procurando uma saída, até que encontrou uma maçaneta e girou. A porta estava aberta. Ele abriu a porta devagar, pois não sabia o que iria encontrar do outro lado. Aos poucos a luz foi entrando no lugar onde estava e seus olhos arderam. Abriu toda a porta e, por alguns segundos, não conseguiu enxergar absolutamente nada. Mas em seguida seus olhos foram acostumando-se com a claridade, e à medida que começava a ver o que estava ao seu redor ficava ainda mais confuso, nada fazia sentido.

David estava no terraço de um prédio alto. Olhou para traz, para ver de onde havia saído, e era um pequeno quarto, talvez um almoxarifado vazio, sem janelas, apenas uma porta. Caminhou um pouco mais, em direção a uma das extremidades do terraço com a intenção de olhar para baixo e ver as ruas na tentativa de descobrir onde estava. Ao caminhar, notou que estava descalço. Também observou suas que roupas não eram as mesmas que usava quando entrou no taxi, e agora vestia uma calça jeans azul desbotada e uma camiseta branca, um pouco suja, talvez por estar deitado no chão.

Continuou caminhando até à borda do terraço do prédio, olhou para baixo e viu que não estava mais em sua cidade. Era um lugar estranho, uma cidade que não conhecia.

Havia também um estranho silêncio no lugar. As ruas estavam vazias. Parecia ser uma cidade muito grande vista de cima, porém não havia movimento de carros ou pessoas nas ruas. David sentiu medo, estava confuso, não sabia onde estava e nem como chegou ali.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

"Memento Mori" - Lembra que vais morrer!



Reza a lenda que quando um general romano retornava de uma batalha vitoriosa e era recebido pela cidade com festa, aplausos e euforia, um de seus servos permanecia ao seu lado repetindo as palavras em latim: memento mori. Esta é uma expressão que significa: “lembra que vais morrer”.

Ninguém quer morrer. Mesmo quem acredita em Céu ou Paraíso não quer morrer para chegar lá. A morte assusta a grande maioria das pessoas, e por causa desse medo da morte, muitos se submetem assassinar os seus sonhos em troca de sua sobrevivência. Explico. Gastamos praticamente dois terços de nossas vidas, ou trabalhando ou nos preparando para o trabalho, ou reclamando dele. O maior tempo de nossas vidas é em torno do trabalho. Também é fato que a maioria de nós trabalha quase que por toda a vida em algo que não gosta realmente de fazer, porém, porque precisamos “sobreviver”, nos submetemos a isto.

É o medo da morte, a nossa morte e a das pessoas que amamos, que nos impele a trocarmos a nossa felicidade, satisfação e a realização de nossos sonhos por uma chance de continuar respirando. É o instinto de sobrevivência que nos impulsiona a fazer praticamente qualquer coisa para continuarmos vivos. Agora, o que me pergunto é: vale a pena continuar vivo, porém sem viver de verdade? Vale a pena sobreviver sem viver o que sonhamos viver?

Eu pensei bastante sobre isso por muito tempo, e pensei que, ainda que você adie ao máximo a sua morte e consiga viver por cento e vinte anos, você vai morrer. Sim, todos vão morrer. Se não for agora, ou no fim do mundo em 21/12/2012, um dia TODOS vão morrer. Você, eu, as pessoas que amamos, todos, e não há nada que possamos fazer a respeito disso. Porém, enquanto estamos vivos, podemos escolher fazer de nossa existência algo patético e medíocre, sendo enganados por alguns poucos donos do poder e nos submetendo a uma vida infeliz e ridícula, ou podemos tomar o controle de nossas próprias vidas e, assumir que a vida sem a sensação de missão cumprida, de sonho realizado, não é vida, é morte.

Tem muita gente andando por aí como morto em seus departamento, escritório, uniforme de trabalho, terno ou capacete de operário. Quantos infelizes sonharam em viajar pelo mundo, como aventureiros, com uma mochila nas costas, mas agora já “não podem” mais, porque tem compromissos a cumprir, dinheiro pra ganhar, família pra sustentar, etc. São zumbis existenciais, que nem mesmo sabem ao certo o que estão fazendo aqui, e a única alegria que lhes acontece é quando o seu time é campeão de algum campeonato.

Sobreviver apenas, sem ver nossos sonhos tornarem-se realidade, é como morrer em vida.

EM MEIO AO CAOS

Em meio a tragédias e becos sem saída, lápides e desonestidade, abusos e dores de estômago é que a vida acontece. Sem os safanões da vida meninos não viram homens, a tecnologia não avança, a gente não evolui nem como indivíduo nem como coletividade, enfim, a vida não acontece sem a vida como ela é.

Aliás, evolução é isso. Seja sob a ótica de Lamarck, com a habilidade humana de mudar, adaptando-se ao ambiente, seja sob a ótica de Darwin, com o ambiente selecionando os mais adaptáveis, excluindo os demais, a vida evolui. E o que provoca essa evolução é o stress, são as dificuldades e obstáculos com que nos deparamos ao longo da nossa história como espécie. É especialmente o “osso” da vida que nos obriga a crescer.
Penso que, assim como é com a espécie inteira,  como indivíduos a dinâmica é a mesma. Tipo, “o que não nos mata nos torna mais fortes”. Em cada época da vida encontramos dificuldades que em princípio parecem enormes, mas à medida que vamos nos aprendendo, as dificuldades viram experiências e os próximos obstáculos vão deixando de ser tão assustadores assim. Aí tudo fica calmo por um bom tempo até que surgem aquelas catástrofes da vida. Aquele tipo de evento que acontece poucas vezes na história de uma pessoa, mas que é suficientemente grande para determinar o rumo de uma vida inteira. É em momentos como esse que nossas vidas são decididas e descobrimos se vamos evoluir ou morrer, melhorar ou cair na obsolescência, ser mais ou tomar o trem da inexpressividade de uma existência desprovida de significado, tornando-nos gente invisível quase que até pra nós mesmos. E assim a vida vai acontecendo, no caos.
É como se a vida estivesse em busca apenas de guerreiros, não dando lugar a nada e nem a ninguém que seja frágil demais. A vida bate forte e não escolhe em quem bater, todo o mundo leva. O rico e o pobre, o novo e o velho, homem e mulher, todo mundo apanha da vida, sem exceção. Agora a pergunta que fica não é quem vai apanhar mais, mas quem vai permanecer de pé quando acabar?
De posse deste entendimento concluo que o caos é o líquido amniótico da minha existência, e antes de ser parido pela vida, para ela mesma, serei curtido no caos, como salsicha no vinagre. E quando esse parto acontecer sairei de lá com o sabor do bom combate, o cheiro da fumaça do fogo que me decompôs e a forma da fôrma do tempo, que me recompôs, mas não na mesma forma de antes.

E assim a vida segue, sendo vida em meio ao caos.

Giordano Narada
26/01/2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

ACREDITO!


Acredito?

Eu acredito no agora, aqui
Acredito nesta casa onde estou agora
Acredito nestas palavras que estou escrevendo agora
Acredito na música que toca enquanto escrevo
Acredito em mim, porque estou aqui e agora
Acredito na morte, essa nunca falha
Acredito no poder da vontade, mas só agora
Acredito na fé, mas não a tenho
Acredito no amor e no sofrimento que ele traz
Acredito em milagres, mas não em milagreiros
Acredito em sonhos, mas só as vezes
Acredito em nada, porque nada é a fonte de tudo
Acredito na dúvida, porque é a mãe de todas as certezas
Acredito no passado, porque é disso que sou feito
Só não acredito no futuro, porque ele não existe

Eu acredito no agora, porque ele SEMPRE está aqui



Giordano Narada

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

POR UMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS...


Estávamos, os dois, deitados no tapete da sala assistindo a alguma coisa que não me lembro o quê. Então, uma das cenas do filme despertou em nós uma calorosa discussão, acho que era algo sobre não falar de religião, futebol e política. Estávamos rindo um do outro porque nenhum dos dois queria perder aquela batalha que definiria quem é que tinha razão. Então tivemos, ao mesmo tempo, a brilhante idéia de transformar as almofadas do sofá em armas de efeito moral. 

Armas nas mãos, sangue nos olhos, FIGHT!

Depois de uns dez minutos de luta acirrada, eu já estava exausto enquanto ela estava ainda com toda a energia para passar a noite toda me soterrando debaixo de toneladas de almofadas, se fosse preciso, apenas para me dar uma lição. Aproveitando-se de um deslize meu, ela roubou-me a almofada e se projetou sobre mim, agora com as duas “armas” nas mãos. Eu a segurei pelos braços e, com a força do ímpeto com que ela avançou sobre mim, nós dois caímos sobre o tapete, eu de costas para o chão, ela por sobre mim. Nossos olhos se encontraram, os rostos bem próximos, podíamos sentir a respiração um do outro, ofegantes que estávamos devido ao esforço da “batalha”. Por uma fração de segundos pareceu que o tempo havia parado e ficamos ali nos olhando por uma eternidade. Finalmente ela quebrou o silêncio e disse:

- Parece coisa de filme
- E o que acontece agora?- perguntei.
- O rapaz beija a moça. – respondeu ela.

Giordano Narada

DANÇA COMIGO

Vou me vestir de tristeza essa noite, e farei dela minha armadura impenetrável
Abraçarei a dor no meu peito como um amante apaixonado, e ela será minha amiga
E que a escuridão me beije com seus lábios gelados e traga de volta quem eu sou

Dança comigo essa noite, ao som de lamento, choro e desgosto
Encontre os meus olhos e verá tua imagem, sim, tua imagem
A imagem da tristeza que inspira os poetas e também os desesperados

Fala ao meu ouvido com doçura, e me lembra do vazio que me preenche
Envolve-me em teus braços e me guarda , até que seja seguro outra vez
E se nunca mais for seguro, e se não houver outra vez
Apenas me deixe ficar, apenas me deixe dormir














HOJE SONHEI COM VOCÊ


Hoje sonhei com você. Sonhei que você me sabia apesar de eu não haver revelado. Toda a minha história estava ao meu redor, todos os que um dia conheci, até mesmo alguns com quem estive apenas uma vez e que nem mesmo sei o nome. Era minha história como testemunha de que você me sabia apesar de eu não ter revelado. O seu olhar me fez tremer por dentro, tive medo de estar enganado, interpretando errado. Você me soube e me quis.

Eu era muito jovem quando te conheci, te soube e te quis. Vi você com os olhos de quem vê uma pedra preciosa em estado bruto, ainda cercada por outras rochas de valor infinitamente inferior, porém, estava claro para mim como seria depois de lapidada. Eu vi o seu futuro e desejei ser parte dele.

Quis o destino que escolhêssemos caminhos diferentes, mas ainda assim, nossos caminhos se cruzaram. Talvez tenha sido apenas uma paixão de adolescente, qualquer coisa passageira, essa era a minha esperança. Mas seja lá o que for não passou com o tempo.  

Outra vez te vi e agora não mais como uma pedra bruta. Parece que o tempo te fez muito bem, ficou mais bonita. Mas não foi só isso, você amadureceu. Muitas coisas não resolvidas dentro de você agora se mostram mais do que resolvidas. E outras questões muito maiores ocupam sua vida, ao mesmo tempo em que hábitos e escolhas inacreditavelmente simples revelam que a pedra bruta que conheci agora está tomando uma forma belíssima, embora surpreendente.

Sim, eu realmente te vi, mas não te conheci. É por isso que quando agora te vejo não te reconheço. Talvez porque quando te vi, na verdade vi a mim mesmo, projetado em você. Talvez porque meu olhar tenha mudado, mas não estou certo disso.

Eu desisti de você. Muitas vezes eu desisti. Desisti todas as vezes. Sim, todas as vezes em que eu me imaginava dividindo e multiplicando meus devaneios insanos com você, minha covardia e baixa auto-estima me lembrava que eu nunca seria alguém capaz de ser o guardião de tão preciosa e rara esmeralda.

Mas esta noite eu sonhei e, por um breve instante acreditei. Você estava linda como nunca e à vontade caminhando entre minhas memórias como quem compreende totalmente. Então você se aproximou, colocou as duas mãos sobre o meu peito, sentindo meu coração acelerado e sorriu. Ah, que sorriso. Hipnotizado pelo teu olhar e embriagado pela idéia de que você finalmente havia me notado, decidi que te beijaria bem ali, em frente a todas aquelas testemunhas, coroando minhas memórias com o “aqui e agora” destilado de teus lábios, dividindo a minha vida em antes e depois de agora. Com as duas mãos toquei sua cintura, e fiz minha mão esquerda deslizar por suas costas até tocar sua nuca e entrelaçar meus dedos em seus cabelos. Mantive minha mão direita em sua cintura e te inclinei levemente enquanto aproximava meus lábios dos seus. Enquanto me aproximava observei seus olhos se fechando, preparando-se para que meus lábios tocassem os seus. Em instantes eu estaria no paraíso. Fechei meus olhos para poder desfrutar sensorialmente do que, por dez anos, só pude viver em minha imaginação. Eu não devia ter fechado os olhos.

Acordei na sala do meu apartamento, deitado no sofá de frente a TV. Fiquei ali, observando os créditos do filme que havia terminado há pouco, ouvindo a bela melodia que me espancava o peito, cheio  de agonia por não ter conseguido me manter no sonho até conseguir aquele beijo. Puxa vida, nem mesmo sonhando...

Giordano Narada
18/12/2011

sábado, 22 de setembro de 2012

O DIA DA DECEPÇÃO


O problema da ilusão é que ela parece real. Quem está iludido não sabe que está, e quem tenta libertar o iludido geralmente fracassa porque ele acredita com todas as forças que sua ilusão é real. A ilusão rouba a alma dos homens.

Foco, por outro lado, é uma faca de dois gumes. Ele é bom pela mesma razão que é ruim porque quando se tem foco, se é capaz de concentrar-se de modo absoluto em algo, observando cada detalhe minimamente, o que pode ser fator determinante para atingir o alvo com perfeição. Mas o problema do foco é que ele deixa você cego para todo o resto. 
      
Agora, imagine alguém focado em uma ilusão!

Algumas vezes você só saberá que está focado em uma miragem quando chegar perto o suficiente, e pode ser que esse “perto o suficiente” signifique estar no meio do deserto, sem água, sem comida e só.

Foco é uma ferramenta essencial para a vida, mas o efeito colateral pode ser bem ruim se não for previsto e controlado. Penso que se for possível nos cercarmos de algumas pessoas em quem confiamos para pedirmos conselhos, a cegueira que o foco traz pode ser minimizada, porque nossos amigos e conselheiros serão as pessoas que nos alertarão para outros aspectos de nossas vidas que não somos capazes de enxergar no momento. Mas ainda permanece o problema da ilusão.

Quando alguém está focado em uma ilusão, não é capaz de ouvir seus amigos e conselheiros. Não porque não os queira ouvir, mas porque o “canto da sereia” da ilusão já o fisgou, como um vírus que o pega de surpresa e o põe de cama em febre de uma hora pra outra. E é aí que esse alguém descobre se está sozinho ou não.

Quando você estiver focado em uma miragem, e persegui-la com todas as suas forças até chegar perto o suficiente pra descobrir que era só uma ilusão, vai se decepcionar e, depois de lamentar, vai olhar para os lados. Se você tiver sorte de encontrar alguém ali, de pé ao seu lado, você é uma das pessoas mais sortudas desse mundo.

Ninguém consegue convencer um iludido de sua ilusão, apenas o dia da decepção é capaz de fazer isso. E quando esse dia chegar, o iludido precisará do amor de pé ao seu lado, esperando com água, comida e com o mapa do caminho de volta. Se não for assim, é provável que o iludido morra no deserto de fome, sede e solidão.

Todos, sem exceção, mais cedo ou mais tarde, perseguirão uma miragem. Muitos morrerão no deserto, alguns conseguirão voltar por conta própria, porém muito machucados e outros até mesmo sem alma. Mas alguns serão capazes de perseguir uma miragem, enfrentar o dia da decepção e retornar inteiros e mais experientes para o seu caminho. Esses são os que, quando acordam de seu transe no meio do deserto, encontram o amor, de pé ao seu lado.

Aprenda a ouvir seus amigos, cuide bem do seu amor, e torça pra que ele esteja lá no dia da decepção. 


Giordano Narada
São Paulo, SP
22/09/2012
10:40am
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

NÃO QUERO DORMIR, NUNCA MAIS!



Não quero dormir, nunca mais.

Não quero dormir porque não gosto daquele período em que meus pensamentos criam asas, logo antes de pegar no sono. É nessa hora que eles viajam pra lugares que eu gostaria de esquecer, e me trazem sentimentos que eu gostaria de nunca sentir. Na verdade os sentimentos são bons, mas é só a lembrança desses bons sentimentos, e isso é ruim. É ruim porque me lembro que não tenho mais o que gostaria de ter pra sempre, e dói.

Não quero porque, antes de dormir eu penso, e quando eu penso, dói. Então dormir, pra mim, é sinônimo de dor, mas não como aquela dor que você sente quando esbarrou com o dedão do pé na quina do sofá. Também não é aquela dor de quando você pulou o muro de casa e torceu o tornozelo, nem tampouco é aquela dor de quando você errou a manobra com o skate e quebrou o braço. Estou falando da dor de ter a sua alma arrancada fora, sem anestesia ou preparação prévia. Estou falando daquela dor que dói no peito como se fosse a própria morte chamando seu nome com sua voz inconfundível.

É por isso que não quero dormir, nunca mais.

Giordano Narada
Peruíbe, SP
13/09/2012
03:09am

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

ME PERDI!

Eu queria que você existisse. Quando eu te criei, foi porque achei que pudesse ser real. Criei seu jeito de falar, seu amor por mim, seu carinho, seu cuidado com meu coração. Criei seu espírito guerreiro, sua alma sensível, sua inteligência, sua fé em mim, em você, em nós. Eu criei você.

Depois de todo o trabalho que tive pra te desenhar na minha cabeça, comecei a te procurar. Procurei nas ruas, nas praças, nas cidades, no campo, em todos os lugares imagináveis, e até mesmo alguns lugares inimagináveis, mas não encontrei você e, cansado, desisti.

De repente, você apareceu. Exatamente como eu havia desenhado, feita pra mim. Mas como eu havia desistido de procurar, não te reconheci. Depois de passar por você, na vida, fiquei com sua imagem na cabeça, como que tentando lembrar algo que havia esquecido. Depois de tempo e esforço, me lembrei, e doeu.

Quis tanto te encontrar, mas nunca consegui. Quando desisti, te encontrei, mas não te reconheci. Quando me lembrei de você, era tarde demais.

Te criei, te busquei, te encontrei, te perdi, me perdi...

E agora?

Giordano Narada
São Paulo, SP
28/08/2012
00:03

domingo, 12 de agosto de 2012

INSATISFAÇÃO


São 06:30 de Domingo e eu ainda não dormi. Acordei as 11 da manhã de sexta e não consegui mais dormir. Ouço o tic-tac irritante do relógio na parede, sentado no sofá da sala pensando que o tempo está passando e eu ainda não fiz nada que signifique alguma coisa além do ordinário na vida.

Meu corpo quer descansar, mas a minha mente não pode permitir. Dormir parece errado quando há tanto o que fazer.

Eu sofro de uma profunda insatisfação comigo mesmo e com o mundo. Acho que, em meio a 7 bilhões de pessoas com potencial ilimitado, há pouquíssimos espíritos corajosos que acreditam poder fazer alguma coisa pra transformar a realidade em que vivemos. A maioria de nós vive apenas com o propósito de sobreviver através maior número de anos possível, e para garantir que seus filhos continuem a fazer o mesmo quando crescerem. Mas, será mesmo que isso é viver? Eu acho que não.

Viver é atingir o seu máximo potencial, sendo o melhor que você pode ser, é realizar os sonhos que nascem da alma e ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo. Pra mim, viver é atingir completamente o estado da realização pessoal. Sobreviver não é sinônimo de viver.

Não consigo dormir porque eu sei dessas coisas, e é minha Vontade que todos saibam o que eu sei, para que o mundo entre em ordem, mas o problema é que eu não faço a menor ideia de por onde começar. Por essa razão eu sofro de uma espécie de insatisfação crônica, que não me permite me sentir satisfeito com nada. Por um momento, parece que encontrei aquilo que eu precisava encontrar, mas, no momento seguinte, quando olho um pouco mais de perto, percebo que na verdade não era realmente o que eu estava procurando, e aquela canção do U2 parece continuar tocando, vez após vez em minha mente: “I still haven't found What I'm looking for – eu ainda não encontrei o que estou procurando”.

Eu queria mudar de música...

Giordano Narada
Ribeirão Preto, SP
12/08/2012
06:30am

sábado, 4 de agosto de 2012

DESEJOS X VONTADE


Diferenciar os desejos da Vontade é fundamental para encontramos o nosso caminho.

Desejos são reações emocionais e instintuais a estímulos externos, já a Vontade é o potencial buscando se expressar.

Muitos são os estímulos externos que nos provocam desejos, e na maioria das vezes vivemos em função deles. Desejamos um bom emprego, uma boa casa, um bom carro, um bom relacionamento amoroso, boas amizades e muitas outras boas coisas porque vivemos em uma sociedade que provoca esses desejos em nós.  Mas não nascemos com esses desejos, eles são gerados em nós à medida que vamos crescendo e sendo estimulados pelo que acontece ao nosso redor.

Existe em nós um desejo enorme de sermos aprovados pelo meio em que vivemos, e pra isso estamos dispostos a sacrificar a nossa individualidade, nos submetendo aos padrões impostos por uma minoria influente e poderosa, que provoca os desejos da maioria. É por isso que coisas como Moda possuem tanto sucesso. E quando somamos este desejo de aprovação ao instinto de sobrevivência, nos deparamos com a “Grande Massa” gastando a maior parte da sua vida trabalhando em funções criadas por essa minoria poderosa, sem o menor prazer em fazer isso, apenas para garantir a sua sobrevivência, trabalhando por dinheiro e não por um ideal, por um sonho, ou por Vontade. E o dinheiro ganho com esse trabalho é gasto com aquilo que nos disseram que devemos gastar, e não com a realização de nossos sonhos, ou nossa Vontade.

Nossos desejos são manipulados o tempo todo, sendo decididos por outras pessoas, estando os influenciadores conscientes ou não disso. A Vontade não é assim, pois ela não acontece de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. A Vontade revela a nossa verdadeira identidade.

Cada pessoa é única. Ainda que tenha características similares a de outra pessoa, ainda que haja algum grau de afinidade profundo, parentesco, ou mesmo em caso de irmãos gêmeos, um nunca será igual ao outro. A combinação é sempre diferente. E assim como cada pessoa é única, cada Vontade também é única.

Como eu escrevi no começo, a Vontade é o potencial buscando expressão, e expressar essa Vontade é a única coisa que revela quem nós realmente somos e é a única coisa capaz de nos realizar. Os desejos não tem esse poder.

O caos em que vivemos é devido à ausência dessa compreensão. A “Grande Massa” tem seus desejos manipulados por uma minoria poderosa e doente, enquanto alguns poucos que ousam realizar a sua Vontade são chamados de malucos e calados por quem sequer ouviu o que estes “malucos” tinham a dizer. E depois de mortos, estes mesmos malucos são venerados como deuses, e suas palavras distorcidas e transformadas em mais uma ferramenta de manipulação da massa.

É verdade que alguns raros, quando conseguem furar o bloqueio da cultura vigente e realizam a sua Vontade, causam um impacto no mundo. Quando estes raros são capazes de não dar ouvidos as opiniões contrárias e não ter medo de enfrentar as consequências de suas “maluquices”, tornam-se aqueles que mudam o mundo, e o levam ao próximo nível, mas isso é realmente raro.

Mas quem são esses raros que mudam o mundo? São pessoas comuns, com nada de especial a não ser a coragem de fazer a sua Vontade. Ou, quando não é coragem, é simplesmente a falta de consciência de que poderia ser perigoso fazer a sua vontade. Assim, com simplicidade, fazem o que realmente querem, sem se importar com as consequências ou o resultado. Geralmente são os que não têm medo de errar, de se arrepender, de passar vergonha ou mesmo de morrer. O medo é o maior inimigo da Vontade.

Agora, a grande pergunta é como descobrir ou reconhecer a minha Verdadeira Vontade?

Penso que a resposta seja bem simples, porém não é nada fácil colocá-la em prática.

A Vontade está soterrada e perdida em meio à multidão de nossos desejos em sua maioria reprimidos. E nossos desejos reprimidos, frequentemente tornam-se doença emocional, o que torna mais difícil o trabalho. Para encontrarmos a nossa Verdadeira Vontade, é necessário, primeiro, removermos as pilhas e pilhas de desejos acumulados em nós, e para isso, não vejo outra maneira de fazê-lo senão realizando esses desejos.

Talvez você não concorde com isso, mas não pode dizer que não há lógica aqui. Desejo realizado já não mais existe. Agora, a questão é a coragem pra realizar esses desejos. O medo domina a maioria de nós, e tudo o que fazemos de um modo geral, é baseado em medo. Medo de não ser aceito, de passar vergonha, de passar fome, de morrer, de perder o que já conquistamos, e a lista continua. Mas precisamos ter a clareza de que, toda decisão baseada em medo, não tem relação com a Vontade.  Nossos instintos nos dominam, e somos como animais em nada diferentes de qualquer outro animal. A única coisa que pode nos diferenciar dos animais é a Vontade, e só viveremos a Vontade quando dominarmos nossos instintos.

Agora, qual é o limite para realizar nossos desejos?

Isso também é bastante simples, o limite é o espaço do outro. Cada homem e cada mulher é uma estrela, que possui a sua própria órbita, o seu próprio caminho, e o único “pecado” é a colisão. Enquanto você não estiver colidindo com a “órbita” de outra pessoa, não há limites. E quando você realizar seus desejos, ou vencê-los, sua Vontade aparecerá, e pra ela, também não há limites. Só que, diferente do desejo, a Vontade nunca colide com a Vontade de outra pessoa, porque ela é única, nunca será igual à de ninguém.

Mas o problema é que, quando você fizer aquilo que é a sua Vontade, provavelmente você entrará em rota de colisão com alguém, porque a maioria de nós ainda não está fazendo a sua Vontade, e por isso estão fora de sua órbita. Certamente alguém estará no seu lugar, e é aí que a coisa complica um pouco. É nesse ponto que os conflitos surgem, e ganhamos inimigos.

Não podemos ter medo de lutar por nossa Vontade, ainda que isso signifique um confronto direto com outras pessoas. Sempre vale a pena lutar para realizarmos nossos sonhos, nossa Verdadeira Vontade.

Eu sonho com o dia em que veremos muitas pessoas realizando a sua Vontade, e isso desencadeará uma onda que varrerá o planeta. Quando isso acontecer, o caos entrará em ordem, ninguém mais ocupará o lugar que não lhe pertence, e os sonhos serão realidade, sempre.

Utopia? Ilusão? Talvez. Mas o que me pergunto é: e se eu estiver certo?

Giordano Narada de Assunção
São Paulo, SP
04/08/2012
22:43

sábado, 28 de julho de 2012

SEM SONO


Eu já te conhecia dos meus sonhos, sim, porque sonhei com você minha vida inteira. Pena que esse sonho era só meu.

Sonhava que quando nos encontrássemos nos reconheceríamos, como quem já se encontrou em outras vidas, outros mundos, outros universos. Quando te vi imediatamente te soube, te senti e te reconheci, mas você não me viu.

Conversamos por horas a fio durante dias, ouvimos música, rimos, choramos, mas você não me viu.

Eu me aproximei e você se assustou.
O amor assusta.

Tinha medo de nunca te encontrar, mas agora que te encontrei gostaria que não tivesse acontecido. Quando era só um sonho você também me sentia, me sabia, me reconhecia. Agora que te encontrei, vi que era apenas um sonho... Um sonho só meu.

Acordei com você me sacudindo e me dizendo para acordar, pois era apenas um sonho, um sonho só meu. Acordei, e você já não estava. Não estava porque se foi, porque meu sonho não era seu.

Eu gostava de sonhar com você. Mas quando te encontrei, fui despertado.
Agora estou aqui, acordado, sem sono e só.


Giordano Narada
São Paulo, SP
29/07/2012
02:07 AM

domingo, 18 de março de 2012

ENTRE UTOPIA E ILUSÃO


Utopia é uma cidade espetacular. Embora eu não tenha nascido lá, tenho um carinho muito especial por ela e seus moradores. Eu diria que é uma cidade bipolar. Na maior parte do tempo é uma cidade pacata, típica do interior, mas de uma hora pra outra pode ficar agitada e movimentada. Utopia sempre me fascinou, e foi por isso que me mudei pra lá já faz um bom tempo. Eu realmente queria descobrir o segredo daquela cidade, mas quando finalmente descobri eu soube que nunca deveria ter me mudado pra lá.


Nos arredores de Utopia havia uma cidade encantada chamada Ilusão, cidade onde habitavam as feiticeiras do amor. As habitantes de Ilusão nunca saiam da cidade, pois haviam sido confinadas ali pelo Grande Feiticeiro e, até onde sabíamos ninguém jamais escapou. Os mais antigos contavam que elas se alimentavam de corações apaixonados e a única maneira de as feiticeiras se alimentarem era quando viajantes desavisados resolviam procurar pouso em Ilusão. Nunca mais foram vistos, exceto um que sobrou para contar a história.

Utopia era uma cidade muito bela e seus habitantes eram pessoas extraordinárias e interessantíssimas, porém muito ocupados com seus próprios devaneios e eu comecei a me sentir um tanto deslocado. Então, inquieto e curioso, resolvi dar uma espiada em Ilusão. Arriei o meu cavalo e parti com um misto de medo e excitação que faziam meu coração disparar. Queria ver o que tinha lá, mas tinha medo de não voltar. Acho que sou atraído pelo que me dá medo.

Avistei a cidade ao longe e fiquei deslumbrado. Nunca havia visto tanta beleza. Será que eu conseguiria, pelo menos de relance, por meus olhos em uma das habitantes de Ilusão?

Desci do cavalo e caminhei em volta da cidade procurando encontrar alguma fenda no muro que me permitisse ver o interior. Encontrei uma abertura em um dos cantos do imenso muro quadrangular que cercava a cidade e, ao que parecia me mostraria algo no interior da cidade. Meu coração parecia me espancar por dentro de excitação. Eu não sabia o que esperar, e certamente não estava preparado para o que eu estava prestes a descobrir.

Olhei de um lado e de outro para ver se alguém me observava. Senti-me seguro e então me curvei para olhar pela fenda e, para minha surpresa, havia alguém do outro lado com um olhar incandescente como que aguardando a minha chegada.

Foi ai que eu a vi, e a reconheci.

Era ela, a mulher misteriosa que eu havia observado em duas ou três ocasiões em Utopia. Todas as vezes que eu a vi, a cidade estava fervilhando. Mas como seria possível? As feiticeiras eram prisioneiras de Ilusão. Ninguém poderia sair de lá, a não ser que... Será? Não pode ser. A única forma de uma feiticeira sair de Ilusão seria com a permissão do Grande Feiticeiro. Mas por que ele permitiria tal coisa?

Enquanto eu conjecturava estas coisas meu cavalo começou a se agitar. Voltei-me para ver o que acontecia e, como num passe de mágica lá estava ela. Nunca em meus sonhos mais sem limites eu havia imaginado uma mulher tão estonteantemente bela em toda a minha vida. Meu coração, que antes estava acelerado agora parecia que iria parar. Fiquei totalmente sem reação, e aquele frio na barriga foi subindo pelo peito até chegar como um nó na garganta, uma vontade de chorar por ter encontrado, não somente o segredo de Utopia, mas também a rainha de Ilusão.

Logo quando cheguei à Utopia eu havia ouvido uma historia sobre a rainha de Ilusão. Ela seria a única que podia sair e entrar a hora que quisesse, pois tinha alcançado graça aos olhos do Grande Feiticeiro, porém a condição seria a de que ela nunca se deixaria ver por ninguém sob pena de ser confinada novamente, e desta vez para sempre. Porém esta história foi desmentida por um dos principais da cidade, pois dizia que o Grande Feiticeiro nunca permitira que uma habitante de Ilusão, nem mesmo a rainha, saísse da cidade. Mas eu a vi, e a reconheci.

Quase sem forças tentei falar, mas as palavras não pareciam fazer sentido. Ela se aproximou e com os olhos me disse tudo o que eu precisava saber. Era como se nos conhecêssemos a um milhão de anos. Nada mais importava. Ela se aproximou ainda mais, eu também queria corresponder, mas não conseguia me mexer. Por um segundo cheguei a pensar que alguma coisa estava errada, mas o seu olhar me trouxe de volta ao que realmente importava. Ela chegou bem perto, inclinou-se e com seus lábios encostados em meu ouvido disse algo que não consegui entender. Tentei pedir que repetisse, mas comecei a ouvir um forte zumbido como se viesse de todos os lados. De repente tudo sumiu. Silencio. Era como seu eu houvesse entrado no nada absoluto.

Tentei me mexer. Desta vez meu corpo obedeceu. Comecei a olhar de um lado para outro e não via nada além de... NADA. Como um quarto branco, só que sem paredes, nem teto, nem chão. NADA! Comecei a gritar. Quem sabe alguém poderia me ouvir, mas minha voz retornava com um eco estrondoso e em seguida, silêncio e NADA. Fiquei ali por uma eternidade. Tentei imaginar a quanto tempo eu estava ali, mas não havia noite nem dia. Chorei.

Chorei por muito tempo, tanto tempo que até já nem sabia por que eu estava chorando. Então, em algum momento eu entendi. Abri os olhos e vi. Eu havia sido enfeitiçado e agora era prisioneiro de Ilusão. Como os viajantes desavisados eu havia sido fisgado. Agora já não passava de mais uma opção no cardápio das feiticeiras do amor e logo ela, a rainha, virá para terminar o que começou.

Se você, morador de Utopia ou viajante desavisado tiver que passar pelo caminho de Ilusão, aceite um conselho: passe de largo. Não tente olhar para dentro de Ilusão, pois seus olhos podem encontrar os olhos dela. E acima de tudo nunca, JAMAIS, permita que uma feiticeira do amor fale ao seu ouvido, pois certamente serás levado cativo como eu, e fatalmente servirás de alimento para aquelas que se alimentam de corações apaixonados.

Giordano Narada

É AGORA! - Um pensamento sobre a ilusão do tempo


Tempo é uma unidade de medida. Um dia é o correspondente a uma volta que a Terra dá em torno de si mesma. Um ano é a unidade de medida que corresponde a uma volta que a Terra dá em torno do Sol. Horas minutos e segundos são subdivisões destas unidades de medida. Isso é muito fácil de entender em teoria, porém na prática o que fazermos é ignorar o fato descrito acima e nos comportamos como se o tempo fosse uma entidade viva superior a nós que nos controla e determina quase tudo em nossas vidas.

Por causa do tempo nós envelhecemos, esquecemos, sentimos saudade, cantamos parabéns, vamos a funerais, e fazemos ou vivemos uma série de outras situações sobre as quais, em primeira análise, não temos controle. Mas será mesmo que não temos controle sobre o tempo?

Se tempo é uma unidade de medida usada para medir o movimento da Terra em torno de si mesma e em torno do Sol, logo, tempo é a constatação de movimento. Sabendo disso, quando olhamos para o que chamamos de passado, presente e futuro podemos concluir que passado é um ponto onde a Terra esteve antes, presente é onde a Terra está agora, e futuro é onde a Terra estará no próximo instante. Isso também é fácil de entender, porém é quando trazemos este conceito para um contexto mais interno e subjetivo é que a coisa começa a ficar mais interessante.

Como é fato que o tempo é a constatação do movimento da Terra, também é correto dizer que se a Terra parar, o tempo para. Porém será que poderíamos dizer que se a Terra parar o Homem deixa de envelhecer? A resposta é SIM. Sabe-se que quando um homem é enviado ao espaço, por exemplo, seu metabolismo desacelera e seu “tempo” físico-corporal é alterado. Isso nos mostra que, pelo menos em teoria, é possível desacelerar o tempo se desaceleramos o movimento. É claro que isso não seria possível no caso do nosso planeta, pois a própria Terra deixaria de existir, já que ela só é o que é devido ao movimento que ela faz. Mas o meu ponto é: já que tempo é movimento, ou a constatação de movimento, o mesmo princípio poderia ser aplicado ao que chamamos de tempo nos campos mais subjetivos? Digo, quando falamos que “só o tempo pode curar” ou “não é o tempo certo para isso”, seria o caso de esperarmos “chegar a hora” ou seria o caso de “fazermos o tempo”?

Pensando sobre o que escrevi resumidamente acima cheguei a duas conclusões:

1 – Não existe passado ou futuro, SÓ EXISTE O AGORA.

Tanto em se tratando do movimento da Terra quanto em se tratando do movimento de consciência de cada indivíduo, ou mesmo como coletividade, o que fizemos antes não podemos mais alcançar porque se foi e o que faremos depois não poderemos alcançar porque ainda não foi criado. Desta forma a única coisa que nos sobra é o que está acontecendo aqui e agora. Se assim é, gastar energia tentando reviver o passado ou criar o futuro é o mesmo que enxugar gelo: totalmente inútil porque nunca vai acontecer. Você nunca vai conseguir reviver o passado e nem criar o futuro, porque não há forma de voltar ao passado e o futuro nunca chegará, pois quando ele chegar, será o seu presente. Não importa o que façamos, sempre estaremos no presente, aqui e agora.

Depois de entender isso, o que sobra senão viver tudo o que podemos viver hoje?

2 – O tempo não passa, NÓS É QUE NOS MOVEMOS.

Se você resolver ir para uma caverna em uma montanha longe de tudo e de todos e simplesmente ficar ali parado o que acontecerá? Morte. É isso que acontecerá. Se você não se movimentar de algum modo só o que lhe sobrevirá é a morte. Sem movimento o homem morre, ainda que a Terra continue girando. Isso significa que não é o movimento da Terra que determina o nosso tempo, mas sim o nosso movimento consciente é quem determina o nosso “tempo” e, é claro, qualquer movimento que fazemos é fruto, na grande maioria dos casos, de uma decisão individual. Se isso for verdade, e eu creio que é, nosso tempo é criado todos os dias pelas decisões que tomamos, que podem ter conseqüências rápidas ou demoradas, mas sem nenhuma dúvida as conseqüências virão.

Agora eu lhe pergunto (e a mim também): Se nós decidimos o nosso tempo através de nossos movimentos conscientes e a única coisa real, temporalmente falando, é o momento AGORA, o que eu faço com meus planos, sonhos, desejos e saudades?

Eu não respondo por você, respondo por mim. E refletindo sobre tudo isso eu decidi que:

1 – Não vou mais sentir saudades
Se alguma coisa me faz falta, decido e trabalho para trazer o que me faz falta para perto meu aqui e agora. Se não for possível, não gastarei minhas energias pensando ou desejando isso.

2 – Não vou mais sentir medo
Pois o medo é uma sensação ou um sentimento que se antecipa ao mal ou bem que virá. Sim, algumas vezes eu tenho medo do que é bom. Ninguém sente medo de algo que já aconteceu, mas sim do que acontecerá, porém o futuro não existe nem nunca existirá, então não há razão para medo.

3 – Não deixarei nada para amanhã.
Tudo o que eu quiser fazer, farei hoje. Quando o amanhã for hoje, decidirei novamente.
Viverei apenas o HOJE. Não chorarei nem celebrarei o passado, nem tampouco me importarei em conhecer antecipadamente o futuro, mas viverei COMPLETAMENTE AQUI E AGORA.

4 – Me permitirei mudar de idéia
Como não conheço o futuro não sou capaz de saber quais são as decisões que melhor contribuirão para criar o futuro que gostaria, mesmo porque não há futuro, mas apenas o presente. Deste modo, a partir deste entendimento, me reservo o direito de mudar de idéia quantas vezes julgar necessário para criar, não o meu futuro ideal, mas o meu presente completo.

5 – Serei totalmente quem eu sou
Não me permitirei ser ou parecer alguém que não sou. Nem mesmo tentarei ser um esboço de alguém que gostaria de ser no futuro, pois nunca serei ninguém além de mim mesmo. Então farei apenas o que quero de fato, direi o que tenho a dizer da maneira que sei, sem medo e sem culpa, pois sei que nasci para ser quem sou e o meu momento é agora.

Sim eu posso continuar a criar esta lista até se tornar um grande livro de decisões que eu nunca vou reler, mas acho que vocês já pegaram o espírito da coisa, e eu também. Então quero concluir dizendo que nunca será perda de tempo investir no seu AGORA, mas sempre será inútil tentar resgatar o passado ou alcançar o futuro, pois tudo o que você encontrará na vida será O ETERNO AGORA.

Pense, reflita e aja, mas faça isso AGORA!

Giordano Narada
27/12/2010

Sabe...


Sabe...
As vezes você acha que não precisa de nada até que encontra o que não pode viver sem
As vezes você acha que não pode viver sem, até perder e descobrir que sobreviveu
As vezes você sobrevive alimentando a esperança de um dia viver de verdade
As vezes você se perde...

Sabe...
As vezes você quer dizer a coisa certa mas não encontra as palavras
As vezes você encontra as palavras mas não encontra o momento
As vezes você encontra o momento e as palavras, mas não encontra os ouvidos certos
As vezes você se cala...

Sabe...
As vezes eu quero coisas que são impossíveis
As vezes é impossível querer coisas simples
As vezes o simples é que é impossível
As vezes é possível...

Sabe...
As vezes eu queria conhecer tua alma
As vezes a alma me dói por inteiro
As vezes sobra do inteiro a metade
As vezes nem isso...

Giordano Narada