segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A VERDADE SOBRE A VERDADE


Verdade de fora pra dentro é mecanismo de controle, mas quando é de dentro pra fora, se torna instrumento de liberdade.

Houve um tempo em que eu acreditei que as pessoas poderiam mudar. Mais ainda, acreditei que eu poderia mudar as pessoas. Eu pensava que se eu estivesse munido de razão, poderia convencer uma pessoa racional a mudar. Mas com o tempo, eu fui compreendendo melhor o ser humano e compreendi que ninguém é capaz de mudar ninguém. E isso é porque ninguém muda. O que muda é a maneira de uma pessoa apresentar aquilo que é, ou aquilo que ela gostaria que as pessoas pensassem que ela é. Ou ainda, uma pessoa pode apresentar ao mundo aquilo que lhe fizeram acreditar que ela é, embora não seja. Então, quando vemos alguém que “mudou”, o fenômeno que observamos é, na verdade, uma nova faceta desta pessoa se revelando, seja esta faceta verdadeira ou não.

Eu entendi isso quando comecei a estudar sobre a Verdadeira Vontade, que é o seu potencial em busca de expressão, ou seja, é o que você realmente é. Entendendo que existe uma divisão entre o que você realmente é, e aquilo que geralmente você apresenta para a sociedade, comecei a compreender que existem verdades externas, e verdades internas.

Verdades externas são regras, caminhos ou convenções baseadas inicialmente na crença de uma pessoa, em sua verdade interna, porém aplicada a outras pessoas que não necessariamente possuem aquela mesma verdade, nem qualquer correspondência. Quando um indivíduo se submete a uma verdade externa que não condiz com sua verdade interna, este passa a ser controlado.

Por exemplo, uma determinada religião estabelece como verdade que uma mulher não pode se relacionar fisicamente com outra mulher, porém, certa mulher, que participa desta religião, tem como verdade interna que o relacionamento, seja ele físico ou de qualquer outra natureza,  independe do gênero. Neste momento, uma verdade externa entra em conflito com uma verdade interna. À partir daqui, duas coisas podem acontecer. Ou a verdade externa vai controlar esta mulher, que vai se submeter a esta verdade, ou a sua verdade interna vai obrigá-la a romper com esta verdade externa para poder ser livre. Este é um exemplo de como a verdade externa escraviza, enquanto a verdade interna liberta.

Eu utilizei o exemplo da religião, mas esse não é o único exemplo de quando uma verdade é utilizada como mecanismo de controle. Os pais fazem isso com os filhos quando dizem que estes lhe devem respeito porque eles são seus pais. É uma verdade dos pais, que provavelmente herdaram de seus pais também, e que agora tentam transferir para seus filhos. Eu já penso que você deve respeito a quem conquista o seu respeito. Não é porque um homem fez amor com uma mulher e esta deu a luz a uma criança, que um ou os dois merecem respeito. Qualquer um pode gerar uma criança, mesmo um político corrupto, um assaltante de bancos, um pedófilo ou um assassino. Eu devo respeito a um destes por ele ser meu pai? Eu penso que não, mas isso SOU EU. Não significa que você deve pensar a mesma coisa, porque essa é a minha verdade interna.

Entende o que eu quero dizer?

A maioria de nós vive debaixo de camadas e mais camadas de verdades externas, se deixando controlar por elas, especialmente se muitas pessoas concordam com ela. Temos a péssima mania de ficar do lado da maioria, mas se você observar bem, vai perceber que sempre onde muita gente concorda, a maioria não sabe nada sobre o que está concordando.

Uma outra coisa que acontece, que é tão perigosa quanto seguir a multidão, é confundir nossa cultura, formação e informação, com quem nós somos. As vezes abraçamos o discurso de “eu aprendi assim”, como se isso significasse, “eu sou assim”. São coisas totalmente diferentes. Apesar de suas experiências irem se somando a você ao longo da vida, não significa que tudo o que você aprendeu é você. Lhe pertence, mas não lhe revela. O João é médico, mas não é de fato médico, pois ele é o João. Ele está médico, mas ele não é medico. Se pensarmos mais profundamente, ele nem mesmo é o João, já que esse nome quem escolheu foram seus pais. O nome João só o representa porque lhe foi dito que representava, mas será que depois que o João cresceu e se conheceu melhor, ele se sentiu João? Algumas vezes o João cresce e descobre que na verdade é José. Ou, Maria...

E quem sou eu pra dizer que o João não é Maria?

Acho que não preciso escrever muito mais do que isso, você já entendeu a ideia. De qualquer modo, vou resumir no próximo parágrafo.

Existe apenas uma Verdade, a sua. Toda e qualquer outra verdade que não encontre correspondência na sua verdade, não pertence a você. O mesmo vale quando a situação é inversa. Você não deve submeter ninguém à sua verdade por achar que ela é superior a de outro, porque não é. A não ser que o outro corresponda dizendo que a sua verdade encontra correspondência na dele, você não deve impor a sua verdade. Se sua verdade encontrou correspondência no outro,  você encontrou um parceiro de jornada, mas ainda assim, haverá diferenças.

Isto posto, termino como comecei:

Verdade de fora pra dentro não passa de puro mecanismo de controle, ainda que esteja revestida da melhor das intenções, enquanto que verdade de dentro pra fora, é a única coisa pela qual realmente vale a pena lutar. E o fruto desta verdade, da SUA verdade, é a liberdade.


Giordano Nârada