Verdade de fora pra dentro é mecanismo de controle, mas quando é de
dentro pra fora, se torna instrumento de liberdade.
Houve um tempo em que eu acreditei que as pessoas poderiam mudar. Mais
ainda, acreditei que eu poderia mudar as pessoas. Eu pensava que se eu estivesse
munido de razão, poderia convencer uma pessoa racional a mudar. Mas com o tempo, eu fui compreendendo melhor o ser humano e compreendi que ninguém é capaz de
mudar ninguém. E isso é porque ninguém muda. O que muda é a maneira de uma
pessoa apresentar aquilo que é, ou aquilo que ela gostaria que as pessoas
pensassem que ela é. Ou ainda, uma pessoa pode apresentar ao mundo aquilo que
lhe fizeram acreditar que ela é, embora não seja. Então, quando vemos alguém
que “mudou”, o fenômeno que observamos é, na verdade, uma nova faceta desta
pessoa se revelando, seja esta faceta verdadeira ou não.
Eu entendi isso quando comecei a estudar sobre a Verdadeira Vontade,
que é o seu potencial em busca de expressão, ou seja, é o que você realmente é.
Entendendo que existe uma divisão entre o que você realmente é, e aquilo que
geralmente você apresenta para a sociedade, comecei a compreender que existem
verdades externas, e verdades internas.
Verdades externas são regras, caminhos ou convenções baseadas
inicialmente na crença de uma pessoa, em sua verdade interna,
porém aplicada a outras pessoas que não necessariamente possuem aquela mesma verdade, nem qualquer correspondência. Quando um indivíduo se submete a uma verdade externa que não condiz
com sua verdade interna, este passa a ser controlado.
Por exemplo, uma determinada religião estabelece como verdade que uma
mulher não pode se relacionar fisicamente com outra mulher, porém, certa mulher, que participa desta religião, tem como verdade interna que
o relacionamento, seja ele físico ou de qualquer outra natureza, independe do gênero. Neste momento, uma verdade externa
entra em conflito com uma verdade interna. À partir daqui, duas coisas podem
acontecer. Ou a verdade externa vai controlar esta mulher, que vai se submeter
a esta verdade, ou a sua verdade interna vai obrigá-la a romper com esta
verdade externa para poder ser livre. Este é um exemplo de como a verdade externa
escraviza, enquanto a verdade interna liberta.
Eu utilizei o exemplo da religião, mas esse não é o único exemplo de
quando uma verdade é utilizada como mecanismo de controle. Os pais fazem isso
com os filhos quando dizem que estes lhe devem respeito porque eles são seus
pais. É uma verdade dos pais, que provavelmente herdaram de seus pais também, e
que agora tentam transferir para seus filhos. Eu já penso que você deve
respeito a quem conquista o seu respeito. Não é porque um homem fez amor com
uma mulher e esta deu a luz a uma criança, que um ou os dois merecem respeito. Qualquer
um pode gerar uma criança, mesmo um político corrupto, um assaltante de bancos, um pedófilo ou um
assassino. Eu devo respeito a um destes por ele ser meu pai? Eu
penso que não, mas isso SOU EU. Não significa que você deve pensar a
mesma coisa, porque essa é a minha verdade interna.
Entende o que eu quero dizer?
A maioria de nós vive debaixo de camadas e mais camadas de verdades
externas, se deixando controlar por elas, especialmente se muitas pessoas
concordam com ela. Temos a péssima mania de ficar do lado da maioria, mas se
você observar bem, vai perceber que sempre onde muita gente concorda, a maioria
não sabe nada sobre o que está concordando.
Uma outra coisa que acontece, que é tão perigosa quanto seguir a multidão,
é confundir nossa cultura, formação e informação, com quem nós somos. As vezes
abraçamos o discurso de “eu aprendi assim”, como se isso significasse, “eu sou
assim”. São coisas totalmente diferentes. Apesar de suas experiências irem se
somando a você ao longo da vida, não significa que tudo o que você aprendeu é
você. Lhe pertence, mas não lhe revela. O João é médico, mas não é de fato
médico, pois ele é o João. Ele está médico, mas ele não é medico. Se pensarmos
mais profundamente, ele nem mesmo é o João, já que esse nome quem escolheu
foram seus pais. O nome João só o representa porque lhe foi dito que
representava, mas será que depois que o João cresceu e se conheceu melhor, ele se
sentiu João? Algumas vezes o João cresce e descobre que na verdade é José. Ou,
Maria...
E quem sou eu pra dizer que o João não é Maria?
Acho que não preciso escrever muito mais do que isso, você já entendeu a ideia. De qualquer modo, vou resumir no próximo
parágrafo.
Existe apenas uma Verdade, a sua. Toda e qualquer outra verdade que
não encontre correspondência na sua verdade, não pertence a você. O mesmo vale
quando a situação é inversa. Você não deve submeter ninguém à sua verdade por
achar que ela é superior a de outro, porque não é. A não ser que o outro corresponda dizendo
que a sua verdade encontra correspondência na dele, você não deve impor a sua verdade. Se sua verdade encontrou correspondência no outro, você
encontrou um parceiro de jornada, mas ainda assim, haverá diferenças.
Isto posto, termino como comecei:
Verdade de fora pra dentro não passa de puro mecanismo de controle,
ainda que esteja revestida da melhor das intenções, enquanto que verdade de
dentro pra fora, é a única coisa pela qual realmente vale a pena lutar. E o
fruto desta verdade, da SUA verdade, é a liberdade.
Giordano Nârada
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