segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O SUSTO


O sonho de se casar um dia, é o maior causador de infelicidade nos relacionamentos que já existiu.

Sim porque quem sonha em se casar, mesmo antes de conhecer a pessoa com quem vai se relacionar, está criando em sua mente um mundo em que outra pessoa obrigatoriamente terá de se encaixar. 90% das vezes, o resultado é a desilusão, e só há desilusão onde houve ilusão em algum momento. Quem não se ilude não se des-ilude.

Sabe a menininha brincando de boneca, de casinha, de ser a mamãe da bonequinha, de fazer comidinha com fogãozinho e essa coisa toda? E aquela história toda de princesa e príncipe encantado? Isso tudo é um estímulo pra que a criança aprenda a buscar por um relacionamento amoroso perfeito, ainda que ela nem tenha ideia do que é nada disso.

Qual é o sentido de pensar em casamento se você nem mesmo conheceu a pessoa com quem deseja passar o resto da vida?

Então, no período em que você deveria estar se preocupando em se conhecer melhor, saber quem você é de verdade e o que quer fazer da vida, descobrir o seu lugar no mundo e qual é a sua parte nessa bagunça toda que a gente chama de vida, você fica se preocupando em conhecer alguém que vai satisfazer todos aqueles desejos que nem são seus de verdade, mas que foram imputados em você pela cultura em que estamos inseridos.

Estamos sendo conduzidos o tempo todo como um rebanho de ovelhas inconscientes, achando que estamos em busca da realização de nossos sonhos, quando na verdade estamos só repetindo o que nossos pais fizeram ou, quando muito, lutando para fazer melhor do que nossos pais, mas não deixa de ser mais do mesmo.

Pensar em ter um relacionamento antes de ter um relacionamento é pedir pra se decepcionar. Sonhar com a mulher ou o homem perfeito, a alma gêmea, o príncipe encantado, é uma ponte de via rápida para o inferno, na maioria das vezes. A expectativa, quando direcionada a outro ser humano que não seja você, é um bicho muito traiçoeiro.

Eu penso que um relacionamento amoroso deveria ser sempre uma surpresa. Um susto bom. Um golpe inesperado no peito, que nos assusta a princípio, mas em seguida nos mostra que veio para o bem.

Ninguém deveria pensar em casamento até que casado já esteja. Digo isso porque casamento nada tem a ver com aquela cerimônia religiosa em que a moça se veste de branco, o rapaz veste terno e gravata e, diante de um sacerdote, juram amor eterno um ao outro. Isso não é casamento, é apenas um ritual religioso.

Casamento também não é contrato. O ato de assinar um papel diante de um juiz não casa ninguém. O que casa alguém é o “encaixe”.

Sabe quando você entrelaça suas duas mãos, colocando os dedos da mão direita entre os dedos da mão esquerda, fazendo parecer que é uma coisa só? Isso é casamento!

Quando você conhece alguém e se entrelaça com esse alguém ao ponto de o relacionamento se tornar inevitável, quando as coisas se encaixam de uma maneira que só um idiota não levaria o relacionamento à diante, aí sim podemos falar de casamento.

Enquanto isso não acontece, não faz sentido nenhum pensar em um relacionamento que não seja com você mesmo, desconhecido que é pra você. Sim, porque há quem tenha 30 relacionamentos na vida e ainda assim não sabe o que fazer da vida. Como você quer conhecer alguém se não conhece nem a si próprio?

Casamento deve ser o efeito inevitável de um susto de amor, que lhe pegou desprevenido, mas que agora só faz sentido viver se for acompanhado por quem lhe assustou tão lindamente.

Se ninguém assustou você desse jeito ainda, não pense em casamento. Pense em você, se conheça melhor. Para compartilhar, antes é preciso ter.


Giordano Nârada