quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Escrever é isso, eu acho.



Escrever é como fazer um download da alma. É condensar uma ideia. É mergulhar no oceano das emoções, dos sentimentos, do conhecimento e da experiência, e voltar à superfície com algumas porções de tesouros escondidos nos porões dos muitos navios afundados ali.

Escrever é parir. É dar forma externa a uma parte de você que, na maioria das vezes, não se deixaria ver de outro modo.

Escrever é se mostrar.

Quando eu escrevo posso criar o que eu quiser, o mundo que eu quiser, do jeito que eu quiser. Se eu quiser criar um mundo cor de rosa em que os carros voam de cabeça para baixo, eu posso fazer. Na verdade, acabei de fazer.

Quando eu escrevo, sou a própria divindade criando universos inteiros a partir do nada. E o nada, nesse caso, é a representação de uma ideia. O que me faz pensar que talvez esta seja a origem de tudo: UMA IDEIA!

O limite da escrita é o limite da imaginação de quem escreve. Nem mesmo as palavras limitam a escrita, pois caso não se encontre as palavras certas para expressar o que se deseja, é possível criá-las. Na escrita, tudo o que eu puder imaginar, eu posso fazer.

Escrever é ser um criador de universos.

Segundo Neruda, escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula, termina com um ponto final, e no meio coloca as ideias. 

O difícil é organizar as ideias.

Tenho a impressão de que toda a ideia quer ser vista. Seja escrita, desenhada, construída, executada, ou qualquer uma das inúmeras formas de se externar uma ideia. Talvez seja por isso que às vezes as coisas fiquem um tanto quanto confusas, dando a impressão de que as ideias não surgem. Talvez não seja porque elas não vieram, mas porque todas elas estejam se estapeando pra serem vistas, querendo um pouco de atenção.

Certo dia, uma ideia esbarrou em mim na rua. Fiquei bravo e gritei com ela, dizendo que ela deveria prestar mais atenção por onde anda. Alguns quarteirões depois, percebi que não foi a ideia que esbarrou em mim, mas eu é quem esbarrei nela. Voltei para tentar me desculpar e quem sabe convencê-la a tomar um café comigo, mas ela se recusou até mesmo a falar comigo, e sumiu no seu caminho, me deixando envergonhado e frustrado no meio da rua.

Ideias são temperamentais.

Escrever é fazer com que aquela ideia em que esbarrei na rua se apaixone por mim, faça amor comigo e me dê filhos, transformando uma página em branco em um universo inteiro, onde cada ideiazinha nascida dessa relação cresce, se apaixona por outra ideia, e cria uma outra ideiazinha que também vai crescer até encher mundos inteiros.

Um livro é um mundo inteiro, criado a partir de um esbarrão na rua, entre o autor e uma ideia.


Escrever é meio que isso, eu acho.

Giordano Narada