quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

QUER SER FELIZ OU QUER TER RAZÃO?





Ter razão é uma das necessidades básicas de todos nós. Em alguns casos, comer e beber vem em segundo e terceiro plano quando se trata de ter razão. Discutimos, brigamos, rompemos relacionamentos amorosos, estragamos amizades de anos, abrimos mão de coisas importantes, tudo para ter razão, para vencer uma batalha imaginária. Por vezes somos até cruéis com as pessoas que amamos porque queremos, a todo custo, sermos os donos da razão, mas será que isso é tão importante assim?

Geralmente, as pessoas que fazem questão de ter razão são aquelas que medem o mundo a partir de si mesmas, colocando-se como parâmetro para os outros, esquecendo que, por mais que estejamos juntos, no mesmo lugar, trilhamos caminhos diferentes para chegar até aqui, e é o caminho que nos molda. É ele que forja o nosso caráter, e que por sua vez, determina nossas ações e reações. Porque o meu caminho para chegar até aqui foi diferente do seu, minhas decisões também serão diferentes das suas, e isso nem sempre quer dizer que você ou eu estamos errados.

Existe uma coisa chamada PARADIGMA, que todos nós temos, mas são poucos os que tomam consciência de que isso existe. Por causa da não consciência do paradigma, nos sentimos no dever de fazer com que as outras pessoas pensem como nós, e acabamos por nos tornarmos incapazes de enxergar a beleza da diferença no outro. É a diferença entre nós que nos faz evoluir.

O Paradigma é a lente através da qual enxergamos todas as coisas. É a nossa estrutura de pensamentos que é formada por nossa educação e cultura, que começa em casa, passa pela escola e pelo relacionamento com os amigos. Nossas relações amorosas e profissionais também influenciam bastante na construção do paradigma, e em cada experiência da vida agregamos uma nova peça, formando uma grande imagem. E é essa imagem que projetamos em todas as coisas. Comparamos tudo o que acontece conosco e ao nosso redor com esta imagem que criamos, ou que foi criada em nós ao longo da vida, e tudo o que não se parece com essa imagem, nós rejeitamos, considerando como errado.

Agora, o fato de alguma coisa na vida não se parecer com a imagem que temos dela, nem sempre significa que haja algo errado. Muitas vezes é apenas diferente, e quando nos damos a oportunidade de conhecermos essas diferenças, ampliamos nosso paradigma e evoluímos, crescemos, nos tornamos melhores e maiores do que éramos antes de conhecermos outros paradigmas.

Acreditar que nossa pequena experiência como indivíduo é suficiente para entendermos o mundo é medíocre, e nos impede de crescer. Estar disposto a aprender com cada situação ainda que ela se pareça bastante familiar, é o melhor caminho para ampliarmos nossos horizontes e permitirmos que o que nós somos toque a vida de outra pessoa, e que o que a outra pessoa é, toque também em nós, nos fazendo maiores, juntos.

É possível que cinco pessoas estejam olhando para uma mesma coisa, tenham cinco opiniões diferentes sobre ela, e as cinco estejam certas? Sim, é possível. Por causa do paradigma, não somente projetamos a imagem que temos como também somos capazes de ignorar as imagens que não temos. E é possível que outras pessoas enxerguem uma parte que não estamos vendo, porém não enxerguem a parte que vemos. Quando isso acontece, é natural que duas pessoas discordem, porque possuem visões diferentes à respeito de uma mesma coisa, porém ambas estão certas. Nesse caso, ter razão é o que menos importa, pois a ótica das duas pessoas forma um quadro maior. Mas se pelo menos uma dessas pessoas não for capaz de ouvir e ceder, nenhuma das duas poderá desfrutar de uma visão maior do que elas mesmas, e infelizmente é isso o que acontece com a maioria das pessoas.

Essa é a causa das guerras religiosas, por exemplo. Quem está certo? O Judeu ou o Muçulmano? O Cristão ou o Ateu? O Criacionista ou o Evolucionista? E se todos estiverem certos? E se nenhum estiver certo? Eu tenho a impressão de que, se houvesse um diálogo aberto entre as religiões, ou mesmo entre os ateus e religiosos, acredito que teríamos muitas boas surpresas.

Ter razão tem sido mais importante do que crescer em conhecimento e em consciência. Vencer uma discussão ou um debate tem sido muitas vezes, muito mais satisfatório do que descobrir uma coisa nova, ou dar lugar a uma experiência nova. Desprezamos quem trilhou um caminho diferente porque viemos por outro caminho, ignoramos quem está olhando para uma direção diferente e agimos como se houvesse apenas uma direção e apenas um caminho. Somos dogmáticos em nossas crenças e nos tornamos facilmente manipuláveis por isso. Não discutimos nossa fé ou nossas crenças, e por isso, muitos “lobos” mal intencionados se aproveitam da oportunidade.

A dúvida é o princípio da sabedoria. Duvidar das coisas é o que faz com que os sábios fiquem mais sábios. Fechar-se para um novo conhecimento, acreditando que já temos o suficiente é como dizer-se satisfeito com a mediocridade. Não ouvir uma opinião diferente com a mente aberta, é fechar-se para o crescimento em consciência, é obstruir o caminho da nossa evolução.

Eu acredito que algumas vezes, abrir mão da razão é o melhor caminho. Impor a nossa razão nunca é a melhor escolha, mesmo que tenhamos certeza absoluta de que o “nosso jeito” é melhor que o do outro. Ter razão o tempo todo afasta as pessoas, porque elas também querem ter razão. E então, para ter razão e brigar por ela, acabamos nos tornando pessoas solitárias, e por consequência, infelizes.

Antes de querer ter razão em tudo, talvez seja melhor olhar no espelho e perguntar: quer ser feliz ou quer ter razão? Às vezes é preciso escolher...

Giordano Nárada
Itapema, SC
27/12/2012
21:01