sábado, 29 de dezembro de 2012

O JOGO DA VIDA




Esta semana observei três crianças, de idades diferentes, brincando com um jogo de tabuleiro chamado Jogo da Vida. Eu não conhecia o jogo. Elas estavam na sala e eu na cozinha, à mesa, tentando pela milésima vez usar a internet do celular. Enquanto esperava carregar alguma página, passei a prestar atenção na conversa das meninas. Uma delas pegou uma carta e leu: “você tem que estudar para o vestibular, fique uma rodada sem jogar”. Eu me lembro de pensar em como aquela sentença realmente fazia sentido. Geralmente, o jovem que está se preparando para o vestibular, praticamente deixa de viver por um período. É claro que estou falando dos que estão realmente interessados em passar no vestibular, e também estou falando de uma das boas universidades públicas do Brasil, porque quando se trata de faculdade particular, não há tanta necessidade de estudar, com raras exceções.

Enquanto eu ainda pensava sobre o coitado do estudante que “perde a vida” na esperança de que, com um diploma embaixo do braço possa “ganhar a vida”, as crianças começaram a brigar, não faço ideia do por que. Mas é claro que, com criança, o motivo pode ser qualquer um. Já era, talvez, a terceira briga que elas estavam tendo desde que o jogo começou, quando a irmã mais velha interrompeu a confusão, impondo ordem ao caos. O que me chamou a atenção naquela cena foi a frase que a irmã mais velha utilizou para chamar a atenção das meninas: “vocês mais brigam o que jogam”, ela disse. E não é que mais uma vez se parece muito com a Vida Real?! Nós gastamos boa parte das nossas “brigas vidando” ao invés de viver. Brigamos com nossos pais, irmãos, colegas de escola, brigamos no trânsito, no trabalho, com quem amamos, também com quem odiamos. É, há quem odeie. Brigamos com a atendente da operadora de telefone, da internet, brigamos com a balança, com a conta bancária, enfim, brigamos por tudo e com todos. Mas será que não estamos nos esquecendo de uma coisinha chamada vida no processo?

Eu não sei quem é o vencedor no jogo de tabuleiro chamado Jogo da Vida, mas na Vida que eu jogo ninguém ganha, ninguém perde. Todas as coisas acontecem a todos, as boas e as ruins.

Nesse jogo, alguns meninos pobres tornam-se jogadores de futebol milionários, outros se tornam traficantes e morrem jovens ou são presos. Alguns meninos ricos tornam-se PlayBoys violentos capazes de colocar fogo em moradores de rua, enquanto outros tornam-se pessoas que fazem o bem para muitos. Os tetos também caem, tanto sobre ateus como sobre cristãos. Sim, não há vencedores nem perdedores, apenas uma multidão de indivíduos que, em sua maioria, não sabem que são indivíduos e comportam-se sempre como multidão. Cada um e une ao seu grupo e se acha melhor que o outro grupo. Ou, o indivíduo que pertence a um grupo, deseja pertencer a outro, porque o julga melhor. Mas raramente este indivíduo escolhe pensar por si mesmo e seguir o seu próprio caminho.

No verdadeiro jogo da Vida não há cartas ou dados, mesmo assim nós jogamos uns com os outros. Não há vencedores, mas acreditamos que quem tem mais “venceu na vida”.  Neste exato momento, enquanto você lê estas palavras, milhões são investidos em ciência e tecnologia para prolongar a vida, porque consideramos a morte como mais um obstáculo a ser vencido, mais uma derrota. Mas será mesmo que a morte é uma derrota? Será mesmo que ela deve ser vencida? Talvez a morte seja a única coisa que impede de a raça humana ser totalmente extinta desse planeta.

Ninguém vence na vida porque tem dinheiro, ou porque ficou famoso. Tampouco alguém se torna um perdedor porque não conseguiu comprar a sua casa própria ou porque não atingiu os mesmos alvos que outras pessoas atingiram. Se há um vencedor na vida, esse é aquele que ganha o direito de ter escrito em sua lápide: Confesso que vivi!

Viver, experimentar-se, expandir-se, ser o melhor que podemos ser e chegar ao fim da vida sem vontade de voltar ao passado, satisfeito com presente. Isso sim poderia ser chamado de vencer na vida.

Enquanto você gasta dois terços do seu dia fazendo o que não queria fazer ou se preparando para isso, os verdadeiros vencedores estão vivendo. Enquanto você briga com seus companheiros de jogo pra saber de quem é a vez, os verdadeiros vencedores estão realizando seus sonhos. Eu sei que o mundo é injusto e nem todos conseguem ser tudo o que dsejam ser ou fazer tudo o que gostariam de fazer, porém, não há qualquer possibilidade de sabermos quem são os que realizarão os seus sonhos enquanto estes não tentarem.

Arriscar é viver, entregar-se às suas metas com paixão e atingi-las, ou morrer tentando, é o que deveríamos fazer. E nossas metas, que hoje são baseadas no que o mundo oferece, deveriam ser baseadas em nosso coração, mesmo que fosse o sonho mais maluco do mundo. Imagine como soou maluquice quando alguém antes de Santos Dumont disse que construiria uma máquina que o faria voar. Muitos disseram, mas uma pessoa fez. Eu quero estar entre os que fazem, e você?

Seria muito bom se você parasse de olhar para as pessoas que conseguiram alguma coisa, ou para aquelas que aparentemente não conseguiram nada, e começasse a olhar para o que você quer de verdade. Ainda que não exista o que você quer, crie. Não existia eletricidade antes de Thomaz Edison, nem computadores pessoais antes de Steve Jobs, e talvez muita coisa revolucionária deixe de existir só porque você acha que deve trilhar o caminho que outros já trilharam.

Há uma diferença em você que precisa aparecer, e é essa diferença que fará você vencer na vida. Não vencer a ninguém, porque não haverá concorrência, pelo menos não no começo. Mas você terá vencido seus próprios limites, e ido onde ninguém foi.

Você não tem que fazer uma faculdade, não tem que ter um trabalho com carteira assinada, não tem que escrever um livro, não tem que trilhar nenhum dos caminhos convencionais se não quiser fazer isso de verdade. A única coisa que você precisa fazer é descobrir quem você é, e expressar isso da melhor maneira possível. Se você é um professor, ensine. Se você é um inventor, invente. Se você é viajador, viaje. Faça apenas o que você é. Não caia na armadilha de achar que tem alguma coisa a perder arriscando-se em viver o que quer de verdade. A única coisa que temos a perder é o tempo que gastamos com medo de perder alguma coisa.

Não meça suas vitórias baseado em quanto dinheiro você tem, ou quanto prestígio você alcançou, mas quanto você está feliz com você mesmo. Jogue, mas não contra ninguém, apenas a favor de si mesmo e contra aquilo que não é quem você é. Sem medo, sem culpa e sem perder tempo com outras coisas que não fazem parte da sua Verdadeira Vontade.

Aperte o PLAY!

Giordano Narada
Itapema, Sc
29/12/2012
07:11am