domingo, 23 de dezembro de 2012

QUASE MORTE - Episódio 01














David acordou com uma baita dor de cabeça, era como se tivesse levado uma surra. Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Esforçou-se um pouco mais e percebeu que estava com os olhos abertos, porém o lugar onde estava era tão escuro que era como se estivesse de olhos fechados. Estava deitado no chão, tateou e encontrou uma parede, onde se apoiou para ficar de pé. Ergueu-se com dificuldade, enquanto imaginava que lugar era aquele. Não se lembrava de nada da noite anterior, a não ser que estava em um bar com o pessoal do trabalho, quando recebeu uma ligação de Jéssica, sua noiva, pedindo que fosse até sua casa com urgência. Preocupado, pegou um taxi na entrada do bar, porém acordou ali, no chão daquele lugar escuro, sem ter a menor ideia de onde estava ou do porque estaria ali.

Continuou tateando, apoiando-se nas paredes do lugar procurando uma saída, até que encontrou uma maçaneta e girou. A porta estava aberta. Ele abriu a porta devagar, pois não sabia o que iria encontrar do outro lado. Aos poucos a luz foi entrando no lugar onde estava e seus olhos arderam. Abriu toda a porta e, por alguns segundos, não conseguiu enxergar absolutamente nada. Mas em seguida seus olhos foram acostumando-se com a claridade, e à medida que começava a ver o que estava ao seu redor ficava ainda mais confuso, nada fazia sentido.

David estava no terraço de um prédio alto. Olhou para traz, para ver de onde havia saído, e era um pequeno quarto, talvez um almoxarifado vazio, sem janelas, apenas uma porta. Caminhou um pouco mais, em direção a uma das extremidades do terraço com a intenção de olhar para baixo e ver as ruas na tentativa de descobrir onde estava. Ao caminhar, notou que estava descalço. Também observou suas que roupas não eram as mesmas que usava quando entrou no taxi, e agora vestia uma calça jeans azul desbotada e uma camiseta branca, um pouco suja, talvez por estar deitado no chão.

Continuou caminhando até à borda do terraço do prédio, olhou para baixo e viu que não estava mais em sua cidade. Era um lugar estranho, uma cidade que não conhecia.

Havia também um estranho silêncio no lugar. As ruas estavam vazias. Parecia ser uma cidade muito grande vista de cima, porém não havia movimento de carros ou pessoas nas ruas. David sentiu medo, estava confuso, não sabia onde estava e nem como chegou ali.

Mesmo sem saber o que estava acontecendo, David tinha uma certeza, precisava sair dali. Encontrou uma porta que dava para o interior do prédio, desceu alguns lances de escada e encontrou um corredor onde estavam os elevadores. Era um prédio comercial, mas não havia ninguém ali. Pressionou o botão do elevador, nada aconteceu. Tentou mais uma e outra vez, porém o elevador não funcionou. Parecia que o prédio estava sem energia. David voltou pelo caminho de onde veio e desceu dezoito andares de escada. Alguns minutos depois, chegou ao saguão do prédio, que também estava vazio. Tentou usar o telefone da recepção, mas estava mudo. As coisas estavam realmente muito estranhas. Quando saiu pela porta da frente não conseguiu acreditar no que via. Carros destruídos e com suas portas abertas, abandonados nas ruas. Lojas com suas portas abertas, porém vazias. Barracas de feira, cheias de mercadorias, pedras, artesanatos, todo tipo de peças feitas à mão, mas sem os seus donos. Barracas de comida cheiravam mal, coisas jogadas pelo chão, como se houvessem saído às pressas e deixado tudo para traz. Nem mesmo os pássaros estavam lá. Havia muita destruição no lugar, como um cenário de guerra. Prédios pareciam prestes a desabar, embora houvesse alguns deles intactos, porém vazios.

David andou pelas ruas olhando de um lado para outro sem saber o que estava acontecendo. Não havia sinal da presença de qualquer pessoa alem dele mesmo na cidade. Tentou o telefone público, mas também estava mudo. Tentou gritar, mas a única resposta que recebeu foi o eco de sua própria voz. Depois de andar por cerca de uma hora, sempre encontrando o mesmo cenário, cansado, sentou-se em uma escadaria, em frente a um Shopping Center, também vazio e a fachada estava no chão. Ficou ali por muito tempo, em silêncio, sem saber o que fazer ou o que pensar. Só o que queria era voltar pra casa.

Enquanto tentava encontrar uma explicação racional para o que estava acontecendo, David imaginou ter ouvido o som de um telefone tocando. Ele silenciou seus pensamentos e concentrou-se em ouvir o som que, embora muito baixo, parecia-se cada vez mais com um telefone. Ouviu pela terceira vez e então teve certeza, era um telefone tocando. David levantou-se de um salto e correu em direção ao som que vinha do outro lado da rua. Era uma lavanderia. A porta estava aberta, assim como em todas as outras lojas. Havia roupas espalhadas por todos os lados, como se, quem quer que haja estado ali, houvesse jogado tudo para cima antes de sair.

O telefone agora tocava bem mais alto, sinal de que estava perto. David retirou algumas roupas de cima do balcão e viu o aparelho de telefone, que continuava tocando.

Alô, alô! - Ele ouvia apenas um ruído do outro lado. - “Quem está no telefone? Isto é alguma brincadeira? Onde eu estou? Quem é você?” - Desligou.

David bateu o telefone com raiva e esmurrou a porta do armário de aço em frente ao balcão, várias vezes, deixando a marca de seus punhos no armário. Suas mãos começam a sangrar, por causa dos golpes, mas David não percebeu. Estava confuso e assustado. O telefone tocou novamente. David foi até o telefone, mas não o atendeu. Ficou apenas olhando-o por uns instantes, pensando no que diria ao atender. Quem estaria do outro lado? Ele retirou o telefone do gancho, colocou no ouvido e esperou. O mesmo ruído estava lá.

Alô! – Disse ele, um pouco apreensivo.
–David? – Perguntou a voz de um homem em meio ao ruído estridente na ligação.
Como sabe meu nome? Quem é você? Onde eu estou?
– David, não tenho tempo para explicar tudo agora. Preciso que você ouça o que eu vou dizer com bastante atenção e, principalmente, não entre em pânico.
O que está acontecendo? Quem é você?
– Você não deveria estar ai.
Ah, obrigado por me contar. Agora me diga alguma coisa que eu não sei.Disse David, quase gritando. Seu coração estava disparado, com medo.
– Nós vamos dar um jeito de tirar você daí. As coisas podem ficar muito sérias se você continuar aí por muito tempo.
QUER ME DIZER DE UMA VEZ ONDE DIABOS EU ESTOU? – Gritou David, muito alto, a ponto de ouvir o eco de sua própria voz pelas ruas.
– Ok. Não sei como dizer isso de um jeito fácil e também não temos muito tempo, por isso serei direto. David, você está morto!

Continua...