Um fone de ouvido, tocando a música certa e no volume certo, pode se
transformar em um portal dimensional. Enquanto escrevo estas linhas estou
ouvindo Too High do Dave Mathews, quase estourando meus tímpanos, como um
artifício para criar a ambiência necessária para escrever. Eu tenho uma relação
muito estreita com a música.
Já notaram que todas as religiões, seitas, ou qualquer coisa ligada a
algum tipo de culto ou busca espiritual, sempre tem algum tipo de ritual que
envolve música? Isso é porque a música tem algum segredo que, seja lá qual for,
é muito poderoso.
Diz-se que Pitágoras só aceitava ensinar a um discípulo que conhecesse
bem a Matemática e a Música. Dizia que a matemática e a música juntas tem o
poder de revelar os segredos do universo.
Beethoven acreditava que suas sinfonias eram, literalmente, a música
das esferas. Acreditava que quem pudesse de fato ouvir e compreender o significado
de sua obra, poderia também ouvir o som dos astros e estrelas, e compreender a
dinâmica do movimento universal. Aliás, uma curiosidade sobre Beethoven é que
ele tinha a capacidade de ver a música em cores. Era por isso que ele não
precisava ouvir as canções. O nome que se dá a esse fenômeno é Sinestesia.
Muitas músicas que se houve hoje em dia não passam de barulho irritante,
é verdade. Mas existem algumas músicas, algumas melodias e algumas
interpretações que penetram a alma. Aquilo arrepia o corpo, tira lágrimas dos
olhos, algumas vezes nos obriga a dançar, nem que seja só mexendo o pezinho.
Muitas vezes transforma o humor, como se fosse um santo remédio para as emoções
mais caóticas. Enfim, existe um mistério na música, para o bem e para o mal.
Sim, porque a música pode ser usada tanto como instrumento de
libertação, quanto como mecanismo de controle. A música está no exército,
durantes o treinamento dos militares. Também está nas campanhas políticas, bem
como nos comerciais de TV. A música está em todos os lugares, o tempo todo, e
se você não tomar cuidado, por causa de uma música toma decisões que não queria
tomar.
A música tem esse poder, o de programar e reprogramar as emoções. Eu
mesmo uso isso a meu favor, como agora. Eu precisava escrever, mas estava cheio
de coisas na cabeça. Então coloquei uma playlist que já tenho preparada, que
reprograma as minhas emoções. Me deixa mais atento e focado. Mais cheio de
energia e menos preocupado com outras coisas. Enquanto estou ouvindo
determinadas músicas, é como se só existisse o meu mundo.
Pensar sobre como a música funciona é muito interessante. Mas tem uma
coisa que me intriga mais. De onde veio a música? Quem foi o primeiro a ouvir,
ou compor? Qual foi o primeiro
instrumento musical? Às vezes eu me pego pensando que, se existe alguma coisa
próxima ao conceito de Deus, essa coisa é a música. Se Deus existe, ele é a
canção das canções.
Um dia quero ter a minha percepção tão aguçada que possa ver também,
como Beethoven via a música. Qual será a cor de um Mi maior? Será que é
possível sentir o cheiro de um acorde? Qual será a forma de uma música e suas
cores? Um dia desses vou ter essas respostas.
Enquanto isso, preste atenção no que você ouve. O tipo de música que
você ouve pode determinar o que você sente, e o que você sente determina o que
você decide. E por sua vez, o que você decide determina o que você vive. Seguindo
esse raciocínio, o tipo de música que você ouve pode determinar o tipo de vida
que você vai viver.
Pense nisso, e use a seu favor.
;)
Giordano Nârada
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