Antes eu queria mudar o mundo,
agora só quero uma cerveja.
Depois de fazer tanta besteira tentando mudar o mundo, e depois de me
tornar proprietário de uma coleção enorme de decepções, eu desisti. Parei de
querer ser o dono da bola e o dono do campinho. Aliás, perdi até a vontade de
jogar.
Eu fui perdendo aquela fome de vencer na medida em que fui me
deparando com o mau caráter das pessoas com quem me associei. Ao mesmo tempo,
fui percebendo que no mar da vida, eu não fazia o estilo tubarão. E fiquei, até
recentemente, com a impressão de que só os tubarões é que ficavam por cima.
Sai de São Paulo, aquela selva de pedra com uma dinâmica implacável e
com um nível de exigência em que se pode dizer que “quem faz em São Paulo, faz
em qualquer lugar”, para morar em uma cidade praiana de 40 mil habitantes, no
interior de Santa Catarina. Essa mudança foi incrivelmente radical pra mim.
Aqui em Itapema, de uma maneira geral, não existe ninguém querendo mudar o
mundo. As pessoas por aqui querem, no máximo, ter uma boa velhice.
Há quem empreenda, há quem discuta política, há quem queira melhorar,
mas até agora não conheci um único morador dessa cidade que queira mudar o
mundo. E isso de certa forma me fez bem. Me acalmei. Parei de correr.
Quando cheguei aqui eu não dormia. Quando tinha uma boa noite de sono,
dormia 3 horas seguidas. Mas isso porque eu tinha um sentimento de urgência em
mim. Era como se o mundo dependesse de mim para o seu próximo ponto de
inflexão, seu próximo passo evolucional. De certa forma eu não estava errado, mas o
peso que eu vinha carregando era desproporcional. E foi tudo isso o que me fez
chegar à frase que repeti algumas vezes no Twitter por um tempo: “antes eu
queria mudar o mundo, agora só quero uma cerveja”.
Depois de um ano morando aqui em Santa Catarina, achei que havia
sossegado de vez, mas embora eu saiba que não sou um tubarão, também não sou
uma sardinha. Ver tanta gente acomodada, conformada com uma vida mediana,
entretendo gente que rica que só aparece no verão. Gente boa, com potencial pra
fazer alguma coisa visivelmente significativa, mas que opta por ser dona de
casa, ou de abrir um negócio local para poder pagar o apartamento que comprou à
prestação ou ter um carrinho melhor. Os supermercados fecham para o almoço, padarias
vendem pão frio e não abrem de domingo, o shopping é um galpão com stands
feitos com divisórias de escritório, o máximo do sonho de 99,8% dos moradores
da cidade é um dia ter uma casa para poder alugar para turistas no verão. E
mais uma série de outras coisas que não vou elencar aqui para não ficar
descritivo demais, eu me irritei. Fiquei com raiva de tudo isso. E é
interessante como a raiva de desacomoda.
O tempo de descanso foi muito importante, mas o desejo de fazer mais e
melhor é muito maior do que a dor da decepção.
Não bebo mais cerveja. Não gosto mais do sabor. Por todo o significado
que a cerveja tinha pra mim, hoje ela tem sabor de acomodação, de medo, de
rancor, de mágoa, de distração, de mediocridade. Já descansei o suficiente, e já
bebi cervejas demais. Ta na hora de mudar o mundo outra vez.
Não quero chegar no fim da vida, olhar pra traz e dizer: “construí
várias casas para alugar e hoje tenho uma velhice confortável”. Quero deixar a
minha marca no universo, quero fazer visivelmente a diferença no mundo. Não que
as outras pessoas não tenham sua importância, claro que tem. Quem leu o texto
anterior no blog sabe o que penso sobre pequenos gestos. Tudo é importante. Mas
terminar a vida assim, não é meu caminho.
Quero chegar na reta final, na bandeirada, na linha de chegada, no por
do sol da vida, na noite da existência e poder dizer...
FOI DU CARALHO!
Giordano
Nârada
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