“Dá-me o entendimento da Grande parábola,
para que eu possa contá-la de maneira diferente”
Essa frase surgiu em minha mente
como uma estranha oração, vinda de lugar nenhum. Embora eu soubesse
que não havia lido ou ouvido esta frase antes, esta me soava bastante familiar.
E não somente me era familiar a frase, mas também o seu significado.
Os grandes mestres de todos os tempos, por
muitos caminhos e de muitas maneiras compreenderam a Grande Parábola, não
totalmente, mas algumas partes bastante significativas. Não é à toa que estes
mestres foram responsáveis pelos nossos grandes saltos evolutivos e, ainda
hoje, pautamos nossas vidas e sociedade por seus ensinamentos que percorrem
gerações sem tornarem-se obsoletos.
O mito chamado Jesus de Nazaré foi, eu
diria, o mais notável de todos dentre estes mestres. Isso pode ser constatado
pelo simples fato de a História da humanidade estar dividida em duas partes: AC
e DC, Antes de Cristo e Depois de Cristo. Entre seus feitos lendários está o de
transformar água em vinho, a transmutação da matéria, profundo anseio dos
alquimistas, e sua famosa multiplicação de pães e peixes, que com cinco pães e
dois peixinhos pode alimentar uma multidão de milhares de pessoas e ainda houve
sobra.
Agora, imaginemos que estas histórias
sejam realmente verdadeiras. Na verdade estas não são as únicas histórias de
milagres extraordinários por parte de um homem comum. Todas as religiões do
mundo têm suas histórias fantásticas, e por conta da cultura de nossos
ancestrais, era natural que o homem que praticasse tais “milagres” fosse
chamado de deus. Mas, e se estes homens não fossem deuses? E se fossem apenas
pessoas iguais a nós, porém com um conhecimento avançado demais para seu tempo,
e até mesmo para o nosso tempo?
Para algumas religiões orientais, a
verdadeira realidade não é o que podemos ver, tocar, perceber com os cinco
sentidos, mas está sutilmente “por detrás” de todas as coisas. Como se fosse o
Código Fonte de tudo o que existe, que não pode ser percebido pelos sentidos
naturais, mas que de algum modo, alguns homens e mulheres foram capazes de
percebê-lo.
Atingir o Nirvana foi o que tornou um
príncipe da Ásia Meridional, um jovem chamado Siddhartha Gautama, o Supremo
Buda (O Iluminado), cujo saber haveria transcendido as ilusões dos sentidos
(Maya) e encontrado a iluminação total, conhecendo a verdade sobre tudo. Atingir
o Nirvana seria o mesmo que acordar para a Verdadeira Realidade, que está para
além das percepções dos sentidos. Siddhartha Gautama e Jesus
de Nazaré foram grandes líderes e trouxeram mudanças profundas na vida do
planeta, porém a jornada de Jesus de Nazaré foi marcada por eventos
miraculosos, o que me despertou um pensamento.
Estes dois notáveis falaram cada um à sua
maneira, que a realidade em que vivemos não é nada além de ilusão, e que a
Verdadeira Realidade está para além dos sentidos físicos, e de alguma maneira,
estes dois puderam discernir isso. Porém, Jesus de Nazaré, por entender esta
realidade foi capaz de transformar água em vinho, multiplicar pães e peixes,
andar por sobre as águas e devolver a saúde a um sem número de pessoas. Se isso
tudo for verdade, só posso chegar a uma conclusão: quem for capaz de
compreender do que a “realidade” é feita, será capaz de modificá-la!
É assim que a ciência funciona. Primeiro
entende-se a composição de todas as coisas, para então manipulá-las e modificá-las.
Talvez, enquanto a maioria de nós venera um homem como deus, o mesmo estivesse
apenas, porém não simplesmente, dominando uma ciência revolucionária que
poderia estar à disposição de todos os homens se não fosse nossa ânsia
por divinizar ou demonizar o desconhecido. Talvez
pelo fato de Jesus de Nazaré conhecer a composição da matéria, também soubesse
manipulá-la. Se for assim, o fato de transformar água em vinho ou andar por
sobre as águas foi pura e extraordinária demonstração de conhecimento cientifico
aplicado. E se de fato assim foi, não me admira que tenha dito aos seus
discípulos “fareis as mesmas obras que eu faço, obras ainda maiores farão”,
pois certamente foi capaz de transferir seu conhecimento e ainda confiava que
os que o detinham poderiam aperfeiçoar ainda mais aquilo que aprenderam.
Acredito no potencial humano, no
divino-humano. Acredito que os personagens históricos s mitológicos mais
extraordinários são de todo humanos, como nós, porém sem as mesmas limitações
psicológicas e de formação, que descobriram uma realidade que nós ainda
negamos, com todas as forças. Acredito que por trás de tudo o que vemos,
sentimos e percebemos naturalmente, há um Código Fonte que se for compreendido,
poderá ser manipulado alterando a realidade das percepções. Na verdade creio
que isto tem sido feito, diariamente, por todos nós. Porém o que fazemos
é inconsciente e segue um padrão. Poucos são os que saem do padrão e eu diria
que, em nossos dias, quase nenhum de nós tem consciência real de que isso é, não
somente possível, com também é de suma importância que o façamos.
É como se a realidade em que vivemos fosse
uma grande parábola, como uma história que alguém contou para que pudéssemos
entender melhor o que é de fato real. O problema é que nós interpretamos esta
parábola literalmente. É como quando o Deus bíblico ordena aos seus servos que
os seus ensinamentos estejam atados às suas mãos e em sua fronte, então os que
ouviram escreveram as leis de Deus em pequenos livros e penduraram em suas mãos
e testas. Era uma parábola. Não era pra amarrar nada na testa, era pra entender
a importância do que ele estava dizendo. Mas nossa tendência a querer perceber
sensorialmente todas as coisas acaba por nos impedir de ir além, nos pregando
ridículas peças que se tornam obstáculos em nossa evolução. A nossa
existência é uma grande parábola, e se aprendermos sua natureza, composição e
seus símbolos, talvez seja possível modificar a realidade em que vivemos. Os
homens que citei entenderam isso. Vários outros que não citei aqui também
compreenderam isso, mas nenhum deles foi capaz de nos fazer abrir mão dessa
realidade para conhecer aquela.
Jesus de Nazaré não foi o fundador do
Cristianismo. Sua mensagem foi clara no sentido de que seus discípulos deveriam
ser como ele, e não inferiores a ele. Siddhartha Gautama não foi o fundador do
Budismo. Ele deixou claro em suas mensagens que cada um tem o seu caminho, e
que o caminho dele foi só dele. Segundo Siddhartha, ninguém deveria dirigir
adorações ou culto a outro homem, pois todos têm a mesma essência, a mesma
fonte, mas infelizmente os que vieram depois distorceram as palavras destes e
de todos os outros grandes mestres.
A busca de um Deus fora de nós é a causa
de nossa ignorância com relação ao nosso próprio potencial. Entristeço-me por
isso. Deveríamos estar muito longe no campo evolutivo se tivéssemos dado
ouvidos aos que enxergaram além. Mas ainda existirão outros, e quem sabe
daremos ouvidos desta vez.
Por hora, de coração, faço a minha oração:
Dá-me o entendimento da Grande Parábola, para que eu possa contá-la de maneira
diferente.
Giordano Narada
09/12/2011