Reza a lenda que quando um general romano retornava de uma batalha
vitoriosa e era recebido pela cidade com festa, aplausos e euforia, um de seus
servos permanecia ao seu lado repetindo as palavras em latim: memento mori. Esta é uma expressão que
significa: “lembra que vais morrer”.
Ninguém quer morrer. Mesmo quem acredita em Céu ou Paraíso não quer
morrer para chegar lá. A morte assusta a grande maioria das pessoas, e por
causa desse medo da morte, muitos se submetem assassinar os seus sonhos em troca de sua sobrevivência. Explico.
Gastamos praticamente dois terços de nossas vidas, ou trabalhando ou nos
preparando para o trabalho, ou reclamando dele. O maior tempo de nossas vidas é
em torno do trabalho. Também é fato que a maioria de nós trabalha quase que por
toda a vida em algo que não gosta realmente de fazer, porém, porque precisamos “sobreviver”,
nos submetemos a isto.
É o medo da morte, a nossa morte e a das pessoas que amamos, que nos
impele a trocarmos a nossa felicidade, satisfação e a realização de nossos
sonhos por uma chance de continuar respirando. É o instinto de sobrevivência
que nos impulsiona a fazer praticamente qualquer coisa para continuarmos vivos.
Agora, o que me pergunto é: vale a pena continuar vivo, porém sem viver de
verdade? Vale a pena sobreviver sem viver o que sonhamos viver?
Eu pensei bastante sobre isso por muito tempo, e pensei que, ainda que
você adie ao máximo a sua morte e consiga viver por cento e vinte anos, você
vai morrer. Sim, todos vão morrer. Se não for agora, ou no fim do mundo em
21/12/2012, um dia TODOS vão morrer. Você, eu, as pessoas que amamos, todos, e
não há nada que possamos fazer a respeito disso. Porém, enquanto estamos vivos,
podemos escolher fazer de nossa existência algo patético e medíocre, sendo
enganados por alguns poucos donos do poder e nos submetendo a uma vida infeliz
e ridícula, ou podemos tomar o controle de nossas próprias vidas e, assumir que
a vida sem a sensação de missão cumprida, de sonho realizado, não é vida, é
morte.
Tem muita gente andando por aí como morto em seus departamento, escritório,
uniforme de trabalho, terno ou capacete de operário. Quantos infelizes sonharam
em viajar pelo mundo, como aventureiros, com uma mochila nas costas, mas agora
já “não podem” mais, porque tem compromissos a cumprir, dinheiro pra ganhar,
família pra sustentar, etc. São zumbis existenciais, que nem mesmo sabem ao
certo o que estão fazendo aqui, e a única alegria que lhes acontece é quando o
seu time é campeão de algum campeonato.
Sobreviver apenas, sem ver nossos sonhos tornarem-se realidade, é como
morrer em vida.
Agora, lembrar que eu posso morrer a qualquer momento me ajudou a ver
que não vale a pena lutar pra viver cento e vinte anos se eu não puder
desfrutar desse tempo com uma vida que me realize de verdade. Penso hoje que
mais vale viver trinta anos com um sorriso no rosto, realizado, do que cento e
vinte anos vivendo algo que não acredito e que não me realiza.
Colocar a culpa na família, por ter responsabilidade sobre ela também
não é desculpa. São muitos os que dizem que não podem fazer o que sempre
sonharam em fazer porque agora tem uma família e precisam cuidar dela. Mas que
tipo de vida você dará à sua família? Você dará uma casa para sua mulher, um
carro para o seu filho, uma viagem ou duas de férias por ano pra se liberar do
stress de trabalho, mas quem disse que sua família realmente precisa dessas
coisas? Eu vou dizer do que todos nós precisamos. Precisamos de uma causa pela
qual valha a pena morrer.
É isso mesmo, uma causa. O nosso problema com a morte é porque não
temos uma causa pela qual lutar e que valha a pena morrer. Vivemos em uma
sociedade fútil e superficial, onde a sobrevivência vem primeiro. Logo em
seguida o conforto e as aparências são as coisas mais importantes. Eu preciso lembrá-los
que existe algo dentro de nós, que na verdade é quem nós somos realmente, que
deseja ser mais do que temos experimentado como existência. E esse “algo”, que
você pode chamar de alma, espírito, inconsciente, subconsciente, o que seja, deseja
se expressar. Sua alma quer sair. Mas estamos muito ocupados nos mantendo vivos
para deixar que o “coração” faça o que tem que fazer.
O mundo é essa loucura que é porque a maioria de nós está fazendo que não
deveria fazer, e o que deveria, não está fazendo. O garoto que deveria ser
astronauta hoje é cabeleireiro. A garota, que deveria ser bailarina, hoje é
recepcionista de hotel. Aí você me diz que isso é falta de oportunidade, e eu
lhe digo que isso é medo de morrer. Se você quer alguma coisa de verdade, você
não desiste, vai até o fim. Você insiste até conseguir ou morre tentando. A
garota que queria ser bailarina, só é atendente de hotel porque “precisa
sobreviver”. Do contrário, essa garota iria até à televisão, procuraria
políticos, bateria nas portas das escolas de Balé, onde quer que houvesse uma,
até encontrar alguém que a treinasse ou que financiasse sua escola. Mas o medo
de se expor, de não conseguir, de passar fome, de envergonhar a família ,ou
seja lá o que for, fez com que ela optasse pelo caminho mais comum a todos, que
é desistir de seus sonhos para lutar pela sobrevivência, ainda que seja uma sobrevivência
medíocre.
Memento mori foi uma
expressão utilizada para manter o ego dos generais sob controle e para manter o
foco nas batalhas que ainda estavam por vir, mas pra mim, funcionou como uma
lembrança de que, em qualquer momento eu vou morrer, e não vou levar nada dessa
vida a não ser o que eu sinto, dentro de mim. Não quero levar tristeza para,
seja lá onde for que vamos quando morrermos. Quero levar a sensação de que
consegui, realizei, vivi, venci o mundo. Quando eu morrer, quero poder repetir
as palavras de Pablo Neruda: “Confesso
que vivi”.
E você, vai ficar chorando pelos cantos dizendo que não tem
oportunidade até quando? Ou vai ficar reclamando de que não tem sorte? A sorte
é só uma ideia e a oportunidade deve ser criada por você. Faça o que você tem
que fazer AGORA, lembra que você vai morrer.
Giordano Narada
Florianópolis, SC
20/12/2012
01:58am
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