Diferenciar os desejos da Vontade é fundamental para encontramos o
nosso caminho.
Desejos são reações emocionais e instintuais a estímulos externos, já
a Vontade é o potencial buscando se expressar.
Muitos são os estímulos externos que nos provocam desejos, e na
maioria das vezes vivemos em função deles. Desejamos um bom emprego, uma boa
casa, um bom carro, um bom relacionamento amoroso, boas amizades e muitas
outras boas coisas porque vivemos em uma sociedade que provoca esses desejos em
nós. Mas não nascemos com esses desejos,
eles são gerados em nós à medida que vamos crescendo e sendo estimulados pelo
que acontece ao nosso redor.
Existe em nós um desejo enorme de sermos aprovados pelo meio em que
vivemos, e pra isso estamos dispostos a sacrificar a nossa individualidade, nos
submetendo aos padrões impostos por uma minoria influente e poderosa, que
provoca os desejos da maioria. É por isso que coisas como Moda possuem tanto
sucesso. E quando somamos este desejo de aprovação ao instinto de
sobrevivência, nos deparamos com a “Grande Massa” gastando a maior parte da sua
vida trabalhando em funções criadas por essa minoria poderosa, sem o menor
prazer em fazer isso, apenas para garantir a sua sobrevivência, trabalhando por
dinheiro e não por um ideal, por um sonho, ou por Vontade. E o dinheiro ganho
com esse trabalho é gasto com aquilo que nos disseram que devemos gastar, e não
com a realização de nossos sonhos, ou nossa Vontade.
Nossos desejos são manipulados o tempo todo, sendo decididos por
outras pessoas, estando os influenciadores conscientes ou não disso. A Vontade
não é assim, pois ela não acontece de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. A
Vontade revela a nossa verdadeira identidade.
Cada pessoa é única. Ainda que tenha características similares a de
outra pessoa, ainda que haja algum grau de afinidade profundo, parentesco, ou
mesmo em caso de irmãos gêmeos, um nunca será igual ao outro. A combinação é
sempre diferente. E assim como cada pessoa é única, cada Vontade também é
única.
Como eu escrevi no começo, a Vontade é o potencial buscando expressão,
e expressar essa Vontade é a única coisa que revela quem nós realmente somos e
é a única coisa capaz de nos realizar. Os desejos não tem esse poder.
O caos em que vivemos é devido à ausência dessa compreensão. A “Grande
Massa” tem seus desejos manipulados por uma minoria poderosa e doente, enquanto
alguns poucos que ousam realizar a sua Vontade são chamados de malucos e
calados por quem sequer ouviu o que estes “malucos” tinham a dizer. E depois de
mortos, estes mesmos malucos são venerados como deuses, e suas palavras
distorcidas e transformadas em mais uma ferramenta de manipulação da massa.
É verdade que alguns raros, quando conseguem furar o bloqueio da
cultura vigente e realizam a sua Vontade, causam um impacto no mundo. Quando
estes raros são capazes de não dar ouvidos as opiniões contrárias e não ter
medo de enfrentar as consequências de suas “maluquices”, tornam-se aqueles que
mudam o mundo, e o levam ao próximo nível, mas isso é realmente raro.
Mas quem são esses raros que mudam o mundo? São pessoas comuns, com
nada de especial a não ser a coragem de fazer a sua Vontade. Ou, quando não é coragem,
é simplesmente a falta de consciência de que poderia ser perigoso fazer a sua
vontade. Assim, com simplicidade, fazem o que realmente querem, sem se importar
com as consequências ou o resultado. Geralmente são os que não têm medo de errar,
de se arrepender, de passar vergonha ou mesmo de morrer. O medo é o maior
inimigo da Vontade.
Agora, a grande pergunta é como descobrir ou reconhecer a minha
Verdadeira Vontade?
Penso que a resposta seja bem simples, porém não é nada fácil
colocá-la em prática.
A Vontade está soterrada e perdida em meio à multidão de nossos
desejos em sua maioria reprimidos. E nossos desejos reprimidos, frequentemente
tornam-se doença emocional, o que torna mais difícil o trabalho. Para
encontrarmos a nossa Verdadeira Vontade, é necessário, primeiro, removermos as
pilhas e pilhas de desejos acumulados em nós, e para isso, não vejo outra
maneira de fazê-lo senão realizando esses desejos.
Talvez você não concorde com isso, mas não pode dizer que não há lógica
aqui. Desejo realizado já não mais existe. Agora, a questão é a coragem pra
realizar esses desejos. O medo domina a maioria de nós, e tudo o que fazemos de
um modo geral, é baseado em medo. Medo de não ser aceito, de passar vergonha,
de passar fome, de morrer, de perder o que já conquistamos, e a lista continua.
Mas precisamos ter a clareza de que, toda decisão baseada em medo, não tem
relação com a Vontade. Nossos instintos
nos dominam, e somos como animais em nada diferentes de qualquer outro animal.
A única coisa que pode nos diferenciar dos animais é a Vontade, e só viveremos
a Vontade quando dominarmos nossos instintos.
Agora, qual é o limite para realizar nossos desejos?
Isso também é bastante simples, o limite é o espaço do outro. Cada
homem e cada mulher é uma estrela, que possui a sua própria órbita, o seu
próprio caminho, e o único “pecado” é a colisão. Enquanto você não estiver
colidindo com a “órbita” de outra pessoa, não há limites. E quando você
realizar seus desejos, ou vencê-los, sua Vontade aparecerá, e pra ela, também
não há limites. Só que, diferente do desejo, a Vontade nunca colide com a
Vontade de outra pessoa, porque ela é única, nunca será igual à de ninguém.
Mas o problema é que, quando você fizer aquilo que é a sua Vontade,
provavelmente você entrará em rota de colisão com alguém, porque a maioria de
nós ainda não está fazendo a sua Vontade, e por isso estão fora de sua órbita.
Certamente alguém estará no seu lugar, e é aí que a coisa complica um pouco. É
nesse ponto que os conflitos surgem, e ganhamos inimigos.
Não podemos ter medo de lutar por nossa Vontade, ainda que isso
signifique um confronto direto com outras pessoas. Sempre vale a pena lutar
para realizarmos nossos sonhos, nossa Verdadeira Vontade.
Eu sonho com o dia em que veremos muitas pessoas realizando a sua
Vontade, e isso desencadeará uma onda que varrerá o planeta. Quando isso
acontecer, o caos entrará em ordem, ninguém mais ocupará o lugar que não lhe
pertence, e os sonhos serão realidade, sempre.
Utopia? Ilusão? Talvez. Mas o que me pergunto é: e se eu estiver
certo?
Giordano Narada de Assunção
São Paulo, SP
04/08/2012
22:43