Tenho sido assombrado por fantasmas de um futuro que nunca aconteceu. A
frase pode parecer confusa, mas é a única que eu consegui formular pra dizer
como me sinto.
Eu estou sempre me projetando para o futuro. Digo “projetando”, mas não
no sentido de planejar, mas sim de projétil, de me lançar com uma bala perdida
rumo a qualquer lugar que não seja, nem aqui, nem agora.
Apesar de me esforçar pra viver o presente, não consigo não pensar no
que pode acontecer se eu tomar essa ou aquela decisão. E algumas vezes eu me
pego pensando: “E se eu tivesse tomado uma decisão diferente da que eu tomei no
passado, como seria meu presente?”.
Então, quando isso acontece, é como se eu voltasse em algum ponto da
minha história, mentalmente, e começasse a viver, na ambiência criada pela
minha imaginação, uma história nova, que eu nunca vivi. E isso acontece muitas
vezes.
Quando não estou ocupando a minha imaginação com o futuro que nunca
aconteceu, me pego sonhando acordado com um futuro que, igualmente, nunca vai
acontecer. Como eu sei que nunca vai acontecer? É simples. O futuro que estou
imaginando naquele momento, só poderia acontecer se eu decidisse seguir por um
determinado caminho que não vou seguir, porque decidi assim. Mas mesmo assim, eu
“engato uma quinta” naquele pensamento e, quando percebo, lá estou eu novamente
no futuro errado.
“Volta o cão arrependido...”
Dizem que há determinados estados de consciência que nos levam a
outras dimensões, ou mesmo a outros universos. Às vezes eu acho que visito
esses lugares. São estes os lugares onde eu experimento novos rumos, onde as
coisas dão certo, onde eu sei quem eu sou e o que estou fazendo ali. E isso não
é um problema, eu até gosto de “viajar pela Hellmans Air Lines” de vez em
quando. O problema é quando eu volto desse quase-transe.
Eu volto à minha realidade, aos meus afazeres, às minhas obrigações,
às consequências de minhas escolhas anteriores e ao meu presente, mas não volto
sozinho. Volto acompanhado por fantasmas.
Sou constantemente atormentado pelos personagens dos muitos futuros possíveis
que visitei. São fantasmas de quem eu gostaria de ser, ou do que eu gostaria de
viver. Fantasmas de um futuro que nunca vai acontecer.
Quisera eu não ter visitado nenhum destes universos paralelos, nem ter
tido o vislumbre do que as decisões que eu não tomei e nem tomarei poderiam me
proporcionar. Na verdade, poderia ser que eu tomasse outros caminhos e não
acontecesse como imaginei, mas isso eu nunca vou saber.
Quisera eu conhecer um exorcista capaz de exorcizar-me deste mal, mas
como me livrar da minha própria imaginação e da minha própria frustração?
Meus demônios imaginários nascem no espelho, e se alimentam da dúvida que
é fruto do medo, este que com suas profundas raízes toca lá no fundo da alma. Isso
é bonito de escrever, mas se fosse uma pintura, seria uma imagem terrível.
Pensando nisso, cheguei à conclusão de que visitar outros universos
não é da minha conta. E que, pior que os fantasmas do passado, são os fantasmas
do futuro.
P.S: Se alguém souber como desliga isso, me conta?
Giordano Nárada
Florianópolis, Sc
25/02/13
23:40
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