O problema da ilusão é que ela parece real. Quem está iludido não sabe
que está, e quem tenta libertar o iludido geralmente fracassa porque ele acredita
com todas as forças que sua ilusão é real. A ilusão rouba a alma dos homens.
Foco, por outro lado, é uma faca de dois
gumes. Ele é bom pela mesma razão que é ruim porque quando se tem foco, se é
capaz de concentrar-se de modo absoluto em algo, observando cada detalhe
minimamente, o que pode ser fator determinante para atingir o alvo com
perfeição. Mas o problema do foco é que ele deixa você cego para todo o resto.
Agora, imagine alguém focado em uma ilusão!
Algumas vezes você só saberá que está focado em uma miragem quando chegar perto o suficiente, e pode ser que esse “perto o suficiente” signifique estar no meio do deserto, sem água, sem comida e só.
Foco é uma ferramenta essencial para a vida, mas o efeito colateral pode ser bem ruim se não for previsto e controlado. Penso que se for possível nos cercarmos de algumas pessoas em quem confiamos para pedirmos conselhos, a cegueira que o foco traz pode ser minimizada, porque nossos amigos e conselheiros serão as pessoas que nos alertarão para outros aspectos de nossas vidas que não somos capazes de enxergar no momento. Mas ainda permanece o problema da ilusão.
Quando alguém está focado em uma ilusão, não é capaz de ouvir seus amigos
e conselheiros. Não porque não os queira ouvir, mas porque o “canto da sereia”
da ilusão já o fisgou, como um vírus que o pega de surpresa e o põe de cama em
febre de uma hora pra outra. E é aí que esse alguém descobre se está sozinho ou
não.
Quando você estiver focado em uma miragem, e persegui-la com todas as
suas forças até chegar perto o suficiente pra descobrir que era só uma ilusão,
vai se decepcionar e, depois de lamentar, vai olhar para os lados. Se você
tiver sorte de encontrar alguém ali, de pé ao seu lado, você é uma das pessoas
mais sortudas desse mundo.
Ninguém consegue convencer um iludido de sua ilusão, apenas o dia da
decepção é capaz de fazer isso. E quando esse dia chegar, o iludido precisará
do amor de pé ao seu lado, esperando com água, comida e com o mapa do caminho
de volta. Se não for assim, é provável que o iludido morra no deserto de fome,
sede e solidão.
Todos, sem exceção, mais cedo ou mais tarde, perseguirão uma miragem.
Muitos morrerão no deserto, alguns conseguirão voltar por conta própria, porém muito
machucados e outros até mesmo sem alma. Mas alguns serão capazes de perseguir
uma miragem, enfrentar o dia da decepção e retornar inteiros e mais experientes
para o seu caminho. Esses são os que, quando acordam de seu transe no meio do deserto,
encontram o amor, de pé ao seu lado.
Aprenda a ouvir seus amigos, cuide bem do seu amor, e torça pra que
ele esteja lá no dia da decepção.
Giordano Narada
São Paulo, SP
22/09/2012
10:40am
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